quinta-feira, 28 de março de 2013

Retrato Flagrado

Te exergo a contra tela
Te vejo assim por de trás
Enquanto te expressas verdadeiramente,
Pintando tuas telas,
Encontro-me a te espreitar.

Te observo através
Te vejo a luz contrastar
Posiciono-me estrategicamente
Sem deixar nada escapar
Atrás de tuas telas.
 
Olho-te sem deixar
Capto-te sem me flagrar
Espero estar inebriado em tua criação
E fico a lhe observar
Sem seu estudo acabar.
Deleito-me a te olhar
Deito-me a te admirar
Subvertido pelo teu estudo
Encantado por tua obra
Arrisco-me a lhe analisar.
Posiciono-me escondida
Divertidamente ansiosa, caridosa
Não lhe perdendo de vista
Por de trás de tuas telas
Sem nunca imaginar,
Que és tu que está a me observar.
                                 
[a me pintar]
 
 
Barbara

 

 

sábado, 23 de março de 2013

Dito achado


Não me importo de ficar na ausência, se o meu vazio não for interrompido. Do contrário, sufocarei em tamanha consciência.
Pois o que longe e distante se fazia certo. Transformado em distante, mas perto, perde o seu sentido.
Sabe-se então que está solto e age, sem qualquer escrúpulo. Universo, respeite o espaço por ti imposto, por ti criado e assim colocado.



Foi dito por ela:
“Eu a odeio porque ela diz a verdade e, sem intenção, o fez dizer coisas que ele jamais seria capaz de dizer, inclusive acusá-la de mentirosa quando ele é quem tanto mente. Eu a odeio por fazê-lo mentir. Pois é dele de quem eu gosto e não dela. Eu odeio ter que odiá-la, sendo ela a única que diz a verdade”.



Saga do parar de escrever:
                           Quando a gente não quer mais escrever sobre o assunto.



“Não vou, eu não sou ninguém de ir, em conversa de esquecer (...) não vá, que muito vai se arrepender (...) o amor só é bom se doer”.



Talvez seja bom revisitar sem olhares subjetivos estes Posts: Parte I e Parte II (clicar).



Barbara

terça-feira, 12 de março de 2013

Lua Nova

Encher a vida de signos, significa significá-la?



- Hoje é dia de lua nova?
- Como assim?
- Dia de lua nova.
- Hoje começa a lua nova?
- É.
- Ah. E daí?
- E daí que é por isso que você está com tantas dúvidas. Já se prepare, porque não será agora que irá respondê-las.
- Por que? Porque é lua nova?
- É. Quando você começar a enxergá-la, terá suas respostas.
- Não seja ridículo. – Pausa longa. – Que música é essa?
- Que música?
- Essa! Ouça... Tuntn... tunta. Não está ouvindo?
- Não. – Sorrindo. – Deve estar em você, é a lua. Deve ser paciente, meu amigo.
- Para de falar bobagem. Está vindo de algum lugar, eu tenho... Tenho certeza... Espera, o que você fez?
- Eu? Eu to aqui na sua frente.
- A música! Está vindo do meu peito.
- Claro que está.
- Só posso estar louco. Você e essa sua lua me deixaram louco! Me sinto, me sinto...
- É lua nova, já disse, não terá respostas objetivas agora. Tente de outra forma.
- Sinto-me ansioso. Como se a correnteza tivesse aumentado.
- Bom.
- Mas, mas dói. É dolorido demais... Estou angustiado!
- Conviva. Serene essa alma, que não há o que você fazer.
- Vou morrer?
- Não. Pelo menos agora não. A lua nova traz mais mistérios do que já havia. – Ao ver o olhar do outro, completou. – Mas depois torna a clarear. Sem perder não há como encontrar, é como o mar.
- O que o mar tem a ver agora? – Segurava o peito como se esmagasse uma frut
- Sem entrar não há como sair. Sem ficar a deriva, não há como pisar em terra firme.
- A lua nova.
- Exato, estamos na lua nova.


Barbara

sábado, 9 de março de 2013

A|B|V

Éramos em torno de muitos. Ninguém se preocupava com uma quantidade exata na época. Apenas se éramos um número suficiente para vencer, para guardar segredo e conseguir se concentrar ao mesmo tempo. E na melhor das hipóteses, nós éramos.

Quando percebemos, no ultimo momento, que tinham nos feito de idiotas, a festa já havia começado há muito mais tempo. Estava bom demais pra ser verdade. No fundo, confesso, que até chegamos a achar estranho, já que o voto por cabeça seria muito fácil para nós, seria como se estivessem nos entregando a nação. Mas como não éramos convidados para uma reunião daquelas a mais de um século, a maioria de nós deixou-se ludibriar.

Não demorou muito para anunciarem que o voto seria por setor. Os nossos olhares de choque eram impagáveis, quer dizer, eu bem que exibia um sorriso de quem não estava surpreso, mas sem deixar de indignar-me; na certa, morreríamos ali.

Os outros dois setores juntaram-se contra nós em todas as decisões. Era como se fosse apenas mais uma reunião sem nós, como se o século de nossa ausência continuasse independente da nossa presença. Na verdade, pior, foi como se nossas próprias cadeiras rissem da nossa cara, como se tivessem sido presentes ilusórios para as crianças se contentarem. Cada gota de tinta dos quadros nas paredes nos olhavam desacreditadas, com a nossa ingenuidade.

Um tapa na cara, isso é que foi.

Contudo não sairíamos perdendo, pelo contrário, se eles não tivessem nos convocado e houvessem deixado tudo como era, mesmo que injusto e absurdo, nós continuaríamos não fazendo nada, pelo menos por mais algum tempo, pois dizem que quando uma revolução tem que acontecer, nada a impede. Mas no fundo eu nunca vou saber, pois eles nos convocaram e nós a fizemos.

Saímos daquele salão manchado de mentiras para outro que iria ser manchado de sangue. Até hoje, não entendo como não nos viram, mesmo em muitos. Os corredores do Palácio nos escondeu noite adentro, pelos minutos intermináveis que nós corríamos. Chegava a ser um pouco horripilante ver as sombras de tantos homens em movimento, sendo projetadas até o teto dos corredores. Nosso estômago ardia em medo e ansiedade.

Pelo o que me lembro, a pior parte foi quando passamos pela galeria dos espelhos e pudemos ver de relance, as faces tensas, suadas e talvez, até um pouco arrependidas de nossos companheiros. Reunimos-nos numa sala que de tão escura, não pude identificar se era mais uma sala de espelhos, ou se era o salão dos jogos, mas ali alguns líderes já apareceram.

Em meio a alguma desordem, nós juramos com toda nossa dignidade furada de homens comuns, que o que ocorrera naquela noite, até então mentirosa, jamais voltaria a acontecer. Juramos que tomaríamos a cidade em nossas mãos, depois a nação, e por fim faríamos ali uma nova Assembleia.
Assim foram nossos primeiros atos. E os segundos, não foram muito diferentes.


Já faz duas semanas que os motins se organizam por toda a capital, mas o de hoje será o maior. Ouvi dizer de um dos influentes que depois da Tomada o terror se alastrará e todos os militares terão que escolher um lado. Que fiquem do nosso, que sejam liberais e justos junto a nós, porque se não forem não sobrará espaço para eles.

Aqui estamos em torno de... Muitos, mas preparados. A noite já cai e vamos sair pelas vielas em direção a ela. Alguns guardas estão sendo mortos pelo caminho, mas não há muito o quê se fazer diante da quantidade de prisioneiros que teremos que libertar, não poderá haver muitos empecilhos.

Não precisa de muito para ver alguns receosos entre nós, mas precisa-se de menos ainda para ver o fervor nos olhos dos homens, não há espaço para mais nada, tudo tem que mudar e mudará agora.

Vou poupar-lhes de detalhes, só dizer que acabamos de quebrar as portas da Bastilha e o barulho arrepiou cada um de nós. Estamos todos ansiosos, há guardas por toda parte.

Mas onde estão os prisioneiros? Celas vazias por todo o caminho.
O chão gelado perfura nossos finos calçados e as lanças tremem em nossas mãos. Não se ouve um barulho, á não ser um grito de um de nós sendo morto, ás vezes, por algum guarda. Nossos passos são sós.


Por fim, encontramos um menino, devia estar ali por pedir esmolas nas ruas. Também um louco, com certeza um maníaco a julgar pelas ideias e pela tremedeira. E uma mulher, mais nada.

Os olhares com uma ponta de decepção disfarçada no triunfo apareceram, e duraram até poucos dias depois, quando finalmente vimos o que fizemos; o terror se alastrara por toda a capital. Não se sabia que lado temia mais o outro, nós ao rei ou o rei a nós.
Agora era preciso continuar e lutar.


 
 
Barbara (há um tempo atrás)

 

domingo, 3 de março de 2013

Cerejeira

Deito-me no impossível, e penso.

Se fosse ao Japão, dançaria a dança da cerejeira.



Tempo, é possível fazer-lhe um acordo?
Guardar tudo isto em silencio,
mas exposto a todas as tuas intempéries?
Segredar tudo em silencio,
até que tudo ganhe um brilho definido?


Nesse tempo todo em que as palavras estiveram tão presentes
Nada foi dito.
Nesse tempo todo em que a presença era física
A distancia se estendia.
Nesse tempo todo em que me deitei a entender
Nada entendi.
Quando falei nenhum som chegou aos ouvidos.
Coloco-me agora em silencio das palavras.
Sem nada dizer, a distancia.
É de longe que me faço presente
Não há o que ser construído em frases.


Retiro-me deste retiro
                       em silêncio.
porque agora vou falar
                       em silêncio
Pretendo lhe contar
o que tem acontecido
e a que pé está
                       em silêncio
por acaso (se) te encontrar.

    Barbara