quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Verbo Aceitar


Permanecer em estado de graça
(som cinza)
Permanecer em temperatura morna
(concha mar)
Sensação de estar na superfície
(gravidade zero)
Permanecer em completa integração
(olhos semi abertos)
Sem poder tocar, mas podendo ver
(verde dentro)





(Pausa para renovar o vocabulário,
prometo voltar na Era de Aquário com uma nova proposta de linguagem)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Caso pessoal

Pode ser que o simbolismo seja uma fuga. Digo levando em consideração também o meu uso deste recurso – mesmo nunca tendo pensado por este lado.
Será que o simbolismo é um escapismo?

 

Todos os pensamentos que passam na sua cabeça naquele segundo

 
Faz tempo
Fazia tempo que eu não me sentia assim
Quando foi mesmo? Não lembro
Fazia tempo que esta vibração não me invadia
E se for só passageira? E se amanhã eu não sentir mais isso?
Pior, e se continuar e ela não estiver mais na mesma frequência do que eu?
Não sei se aguento
Prefiro continuar sem sentir nada, a sentir isto sozinho
Será impossível ser feliz sozinho? Por favor, venha comigo
Ter o estomago constantemente revirado, a respiração sempre a explodir no peito, sem encontrar o mesmo do outro lado?
Será que vale a pena ser o único a explodir de tanto ar a inspirar?
Será que vale a pena ser o único a viver no limite?
Estar entregue ao que tiver para acontecer? E ela não estar?
Estar sozinho, mas inerte, é seguro
Faz tempo que estou assim
Posso viver e conviver sem fortes emoções
Mas agora, ela despertou em mim, sem eu nem haver previsto
Logo agora tudo volta, e eu volto a sentir o gosto amargo do nervosismo subindo pela garganta e ocupando minha boca
Como um protesto do meu próprio corpo por tempos sem fim de inércia
Não estou mais em harmonia comigo mesmo, tudo me invade e... É bom
Não é justo se ela não estiver assim
Não é justo ela não sentir isto e ter domínio pleno sobre todo o corpo, sobre cada gesto
Enquanto eu, desgovernado, tenho cada gesto como se fosse completamente novo e impensável, dentro do meu repertório de vida
Cada palavra parece ter sido trazida de uma profundidade sem fim
Em contrapartida quero levantá-la, apertá-la até fazer parte de mim. Até nenhuma medida nos separar
Gosto tanto que a quero dentro de mim, vibrando não só na mesma frequência, mas na minha frequência
Quero morrer sentindo isto
Mas e se ela não estiver assim? Vale a pena ter voltado a sentir tudo isto depois de tanto tempo em segurança?
Se ela não me corresponder, quero morrer de felicidade
Se ela me corresponder, quero viver, comê-la, bebê-la e apertá-la
Mas eu quero descobrir?
Quero
Só preciso descobrir como
Tenho medo de em vez de falar, acabar gritando.


Barbara

domingo, 25 de novembro de 2012

Lacuna


É como dormir em pé
em um mundo que roda.



Preencher com a respiração
Satisfazer-se apenas com o entre e sai do ar
Preencher com satisfação
Satisfeito pelo preenchimento
Aprovei-me no exercício
da minha própria vida.



É como fluir em paz
na correnteza.



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Rio



Guardião do tempo e da vida, responsável por acelerar e desacelerar o compasso de tudo. Muito mais do que um elemento integrante da natureza ou a base de metáforas. O Rio é aquele que rege, é onde nós estamos. É o aqui e o agora.

Se um dia você se sentar em uma de suas margens, e ali houver águas claras que lhe permitam enxergar o fundo, poderá identificar centenas de pessoas ali sedimentadas. São todos aqueles que se tornaram mais pesados com o tempo, ou que tentaram nadar contra a corrente natural.

O Rio é muito mais do que um juiz; ele determina, dita, cria, modifica e fala. Uma vez dentro dele, aceite que há mais um guardião regendo sua vida. 

Tudo deve seguir como a frase de seu curso, do contrário há de se arrebentar em pedras e quedas. Também há dele ser misericordioso com aqueles que não tentam adivinhar seu caminho ou tentar governá-lo.

Um rio não se cala, não tem o porquê secar, não tem porque parar se há correnteza, não tem porque se revoltar se há calmaria. Ele escurece quando é preciso esconder e proteger, e clareia quando é preciso iluminar.

Se você se deixar levar, integrar e surpreender-se com o que aparece depois da curva, será levado para longe das pedras, e a pontos ainda não imaginados.

Aceitar o tempo do Rio. Um fluxo que muitas vezes queremos que diminua e nos obriga a ir de encontro. E muitas outras vezes queremos que corra, que aconteça, que nos mostre, mas que caminha em completa calmaria, ignorando qualquer anseio de seus navegantes.


Gostaria de saber se rios se encontram ou se no fundo estamos todos no mesmo rio.


Barbara

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Pele

Como se vários percevejos tivessem pousado sobre o seu ombro e antebraço, bolinhas um pouco mais claras do que a pele estendiam-se por toda superfície. Ao puxar a pele para cima e soltar, todas se infiltravam para debaixo dela, como que com vida própria, como que aguardando um sinal.


- Isto está me assustando.
- O que?
- Estas coisas que estão aparecendo na minha pele. Elas parecem estar vivas, olhe.
- Deuses! Como assim? – O outro procurava no chão, após o primeiro tê-las feito desaparecer
-  Não. Entrou para dentro da minha pele.
- E por que você faz isso? Está entrando em você!
- Não consigo evitar. Uma vez que sei que ao puxar, tudo vai desaparecer e entrar, torna-se impossível resistir.
- Mas será que não sempre os mesmos? Pois assim que eles entram, outros aparecem. Podem estar apenas emergindo de volta.
- Não. Veja, pegue aquela caneta. Pronto, vamos marcar este. Agora eu puxo, desaparece, a marca ficou. Lá vêm eles, estão aparecendo novamente e o lugar marcado não tem nada.
- Eles não estão emergindo, estão...
- Pousando.- Estas coisas estão no ar!
- O tempo inteiro entre nós.
- Como você pode permitir que isto entre para dentro de você?
- Não há como, estão aqui...
- Podem estar pousando em mim também! Só que não vejo! Prefiro continuar sem ter certeza...
- Puxe a pele assim, e vamos ver.
- Por que você fez isso?!
- Agora que você já sabe não adianta fingir.
- Você quer me matar! Acho que estou infectado agora, cara! Afaste-se de mim.
- Fique calmo. Eu não estou morrendo, só vejo uma coisa que antes não podia ver.
- Oh não, minha pele está cheia agora!
- Ou não. Talvez antes já estivesse e você apenas não via. Agora vê.
- Como você pode ter certeza que não me infectou? Como pode ter certeza de que já estava ai antes?
- Não posso.

 

Sempre é o meu teste
esqueço-me das minhas partículas
perco a consciência que já havia conquistado
só pela aproximação a ti.
Não há sincronicidade em meus movimentos,
a leveza se mistura com a firmeza,
não queria afastar desta forma.
Vergonha de ser pega em flagrante,
medo de uma situação inesperada
desejando ser surpresa.

domingo, 28 de outubro de 2012

Corrente Leste Australiana

Eu imagino o mundo em que vivemos como se ele estivesse sempre submerso. Para então haver as correntes...

Como correntes marítimas, que passariam por nós o tempo inteiro.

As vezes somos levados, as vezes não conseguimos sair. As vezes tornam-se tão produtivas que continuamos. Mas se não permanecermos com o corpo posicionado da forma correta, ficaremos pesados e seremos deixados para trás; a corrente vai se desfazer de nós de alguma forma, e seremos impulsionados para fora.

Há momentos em que estas correntes têm cruzamentos: você está em uma leve corrente de água doce e de temperatura agradável, mas logo a frente cruzará uma corrente forte de água gelada. Se você não se mantiver firmemente conectado com a natureza da corrente em que está, será lançado para a outra, para não dizer sugado.
De vez em quando se faz necessário trocar de corrente por excesso de permanência. Ficar muito tempo em água salgada causa desidratação. O que foi bom em um momento, agora pode não ser mais, e é necessário ter coragem para saltar, mesmo estando seu corpo tão adaptado àquela frequência. Contudo, quando saltar, não se deve cair à deriva, mas se manter numa frequência, que mesmo que desconhecida, acredita-se ser a melhor. Já que cair em algo turbulento nos leva ou ao risco de nos afogar, ou de nos traumatizarmos pelo salto precipitado.
Estar em uma má corrente pode ser uma armadilha. Não são todas as correntes que nos levam a precipícios, que são revoltosas, cheias de pedras ou geladas. As vezes elas vêm de um lugar chamado Calmaria, onde te faz parecer que tudo está bem, que a profundidade não é nem muito grande e nem muito rasa. Mas quando se menos espera, torna-se um caminho sem volta com um abismo se aproximando. Para sair desta situação, exige mais força do que em qualquer outra, sendo que mesmo assim, na maioria das vezes permanece como impossível.

As correntes do nosso mundo são transparentes; estando em uma, enxergamos todas as outras e quem está nelas. Na maioria das vezes achamos que não enxergamos por estarmos muito focados no nosso próprio caminho. Mas ao identificarmos uma pessoa amada em uma corrente sinuosa e preocupante, fazemos de tudo para trazê-la para nossa.
O problema é que a outra corrente pode ser mais forte, e quanto mais aquela pessoa acreditar na sua própria corrente, mais força ela ganha. E então se não estamos bem firmados na nossa própria corrente, somos sugados para a outra.

Oferece-te a tua mão para o outro, mas será ele que precisará se inclinar para fora, e não você.
A chave agora é saber transitar conscientemente em todas estas correntes. Como ter uma mapa mental do oceano do mundo. Do olho do mundo.
(...)



Barbara

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Brecha


Refletir sobre o tempo de espera
o tempo entre as coisas
lacuna preenchida pelo tempo,

que não parece ter sido originado de uma escolha
mas imposto pelo momento.

Bonito admitir o não amadurecimento
saber o próximo passo
e não se proclamar,

o momento implora para ser prolongado
deve-se esperar.

E encarar que se chegou, é para ficar
se foi apresentado
é esta a hora e o lugar,

mas não serei eu, que farei do tempo
se desafinar.


Barbara

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Memórias I

Já que nunca falo diretamente de mim...


Passei minha vida indo e quase morando na praia.
Vivendo literalmente dez dias de cada mês, e os três meses inteiros de férias.
Tenho um milhão de coisas para contar, mas a primeira só podia ser essa: a minha primeira descoberta prazerosa - provavelmente aos três anos de idade.


Começa pelo fato de:
Eu tenho arrepio de areia.
Não de qualquer areia, só da areia dura. Se for a areia molhada do mar ou a fofa mais quente, não há problema. Mas se for aquela em que as pessoas ficam raspando os dedos, escrevendo com palitos ou onde montam seu acampamento, ai é outra história.
Morro de arrepio.
Na hora de estender as cadeiras, fincar o guarda sol, arrastar os chinelos... Eu sempre tomo uma distancia grande o suficiente para não ouvir nenhum chiado, nenhum raspão na areia, nenhum nada. Se não torço os lábios, tenho arrepios e tremeliques.
Areia me dá arrepio. Soma-se com o fato de que na praia faz muito calor, a gente sua, gruda, a areia gruda de todas as formas, a água do mar com sal gruda, o sorvete que cai gruda, o chinelo que você vai calçar para ir embora gruda e acumula areia empelotada dentro, tudo, tudo, tudo, contribui para estarmos num nível de grude altíssimo.
Tudo isto sempre compôs a minha situação na hora de ir embora.
O que não era qualquer situação, mas uma caminhada de 400m até a minha casa debaixo de um calor infernal, carregando ou duas cadeiras, ou sacolas de água, ou toalhas, ou bolas, ou raquetes ou qualquer coisa do tipo.
O caminho inteiro, desde o primeiro momento em que eu pisava fora da areia, só uma coisa pairava em minha mente: o momento que eu chegasse em casa e me limpasse.
Tudo era completamente irritante na volta.
Socorro, alguém me tire de mim mesma.
Quantas vezes sonhei em construir uma esteira gigante que percorresse aqueles 400m. Quantas vezes sonhei em ganhar uma promoção onde surgiriam pessoas com uma liteira e me carregariam de volta pra casa. Quantas vezes sonhei em voar. Quantas vezes sonhei que a rua se transformasse numa enorme piscina e eu fosse nadando até a minha calçada...
Mas quando eu chegava... Água doce e gelada. Um banho.
Não havia melhor dádiva do que esta.
O banho que lavava a minha alma.
E em seguida, estando completamente fresca, não queria tocar em mais nada que pudesse acrescentar um grão de areia no meu corpo. Só ficaria ali, na rede, no vento,
tranqüila...
Poderia-se ter tirado um bilhão de fotos minhas nesse momento; com um, dois, três, dez, quinze, dezessete anos de idade. E em todas meu semblante refletiria a paz suprema em que me encontrava.
Livre da prisão que o calor e a sujeira me sujeitavam.
Está ai, meu primeiro momento de prazer verdadeiro.
Não posso acabar de relatar essa memória, porque ela pula para outra e para outra e para outra... Apenas pessoalmente, com uma boa xícara de chá quente, pão e descalça é dado as chances de continuar com os relatos...
Ainda bem que os blogs ainda são antiquados e não proporcionam isto.
 
Barbara

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Milharal

De repente as perguntas precisam ser refeitas.
Não porque as respostas serão diferentes, mas para serem (re)lembradas.



Rebeldia
Liberta e encarcera
deixa regurgitar
fica o que constrói                                              “Papagaio velho não aprende a falar
sai o que incomoda                                                                      aprendeu errado, é difícil endireitar”
O prazer é instantâneo
o arrependimento é protelado
Alguém disse que
só seria perdoado
no momento conturbado.



O trabalho sujo,
                    suja a alma.






Fórmula para nonsense:
Se é vício, diga adeus.
Ao acostumar, modifique.
Se há rotina, troque tudo.
Linearidade e conjuntos são ignorados.
Coloca-se cores complementares.
Arranha-se de novo o que arrepia.
Aperta-se onde está dolorido.
Personifica-se as coisas.
Junta-se o que por abismos se separa.
Tudo há de ser sentimentalizado.
Inverte-se a semiótica.
As densidades e pesos são consequências.
O artigos determinados serão indeterminados.
Funções são (re)criadas.



A maior surpresa foi quando foi vencido
no jogo da memória.



Barbara

sábado, 29 de setembro de 2012

Anotações

Estava revirando tudo e acabei por encontrar estas anotações. A identidade do seu autor – ou confessor – continuará em anonimato. Mas, tomei a liberdade de acrescentar as partes em itálico, para quem sabe uma maior compreensão:




“Eu não estava tratando com descaso aquela nova experiência, mas não podia imaginar o que estaria por vir. Não contava com uma experiência do tipo”.

Já havia coletado suas próprias experiências há um tempo, ganhado um bom conhecimento sobre o assunto – teórico e prático. Mas mesmo assim, mesmo se colocando completamente disponível para tudo o que viria, não podia imaginar.

Tudo era barro e terra. Havia poucas árvores e algumas pedras, mas o resto era apenas terra.

“Devia ser por isso, nada de concreto em quilômetros e quilômetros de distancia. Não há como evitar uma conexão daquele tamanho em um lugar com ausência de concreto, parafusos, plásticos... Só a natureza, nua e crua. Eu deveria ter previsto que seria imprevisível e...”.

Tudo começou muito antes do rito. Começou quando pisou naquela terra. Viver ali era estar sempre em contato direto com o astral. Tudo o que já havia experienciado por algumas horas, um dia ou outro, ali era obrigado a viver. A viver naquele estado.

“Insuportável. Era isso o que era. Não estava pronto para ficar tanto tempo naquela constante vibração. Mas ao olhar as pessoas que ali viviam e estavam em volta de mim, não conseguia entender o porquê para mim era tão difícil. Ali não eram todos sacerdotes, xamãs ou qualquer coisa, mas pessoas comuns que apenas no momento do rito praticavam aquela aproximação. Será que elas não eram tão sensíveis para notar que aquilo estava presente o tempo inteiro?”.

Na verdade, era visível para todos a sua dificuldade de adaptação, mas ele haveria de entender. Em breve receberia as instruções pelo seu próprio canal. Com o tempo aprenderia a viver em constante conexão, a vibrar em uma nova freqüência.

“A revolta crescia dentro de mim como uma onda que vai se alimentando e crescendo no mar. Por que não havia compaixão daqueles a minha volta? Eu só queria uma estadia normal. Claro que era capaz de fazer o rito, mas eu só queria poder almoçar, caminhar pelas ruas de barro com minha consciência limpa, eu queria o meu controle enquanto sou eu!”.

Ali onde nada do que não importava simplesmente não existia, e apenas o trivial se fazia presente, algumas condutas eram impossíveis. A ética consigo mesmo era o único caminho. Seu ego seria dissolvido pela pressão atmosférica, a luz só o permitiria ver o que era para ser visto, os sinos só o deixariam ouvir o que era para ser ouvido, e o estar apenas o permitira existir enquanto fosse útil para o universo.

Meses depois.


“Me acalma, apazigua-me a alma. Todo o meu corpo permanece como numa estufa; a temperatura fica morna, todo raciocínio é denso, longínquo, esticado... Como se me abafassem. Como se eu estivesse dez centímetros acima do meu corpo, espreguiçando-me de forma infinita, sendo apenas uma aura sobre minha pele. E tudo o que eu faço vem de outro lugar, mais profundo e verdadeiro do que antes”.

Tudo havia apenas começado.



Barbara




sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Confissão

O difícil foi transcrevê-lo. 

Não consigo ir mais rápido
fui colocado numa estufa
Justo hoje
precisava de um movimento rápido
e certeiro

Ai, endurecido momento
não faz isso comigo
Agora que tomei coragem
sou só suspiro

Chega dessa turbulência interna
e calmaria externa
Que tipo de prisão fui submetido?
Minha inércia é um movimento
de constante desespero

[ultima estrofe removida]


Barbara


        
ps: peço desculpas, mas tenho escrito muito e apagado mais.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Dança dos Continentes

"Os boatos são verdadeiros.
Queremos anunciar a todos que; sim, estamos nos movendo.

Este processo, ainda sem causa definida, se iniciou há 60 dias e foi nomeado como “A Dança dos Continentes”. Os continentes estão trocando de lugar.
A suspeita se iniciou há 30 dias quando foi constatado que países tropicais como o Brasil estavam na ausência de chuva; quando toda a diversidade de climas da Oceania começou a se homogeneizar; e quando o México começou a sentir a presença de geadas e constatar o aparecimento de ornitorrincos.

A boa notícia na verdade são duas; primeiro, os polos não estão se mexendo – não sabemos no que isto poderia acarretar, mas provavelmente boa coisa não seria; segundo, o movimento dos continentes parece ser gerado por uma força motriz que os impede de se chocar.
Contudo a má notícia para uns, é boa para outros; que além de qualquer transporte intercontinental ter sido proibido, também foi notado que a “Dança” segue uma lógica política financeira.

A América do Norte fará um percurso para ocupar o lugar da Europa no centro do mundo, levando consigo o Alasca para ocupar o lugar da Islândia, - não se preocupem, o Alasca já foi alertado sobre um possível aumento na sua taxa de suicídios. Ao mesmo tempo em que os EUA já iniciaram um processo de construção de “novas falsas ruínas” para todos poderem manter sua programação de férias.
A Europa num percurso abaixo dos EUA se dirige para ocupar o lugar da América Central – o que demonstra o seu rebaixamento óbvio. Ao que parece os geólogos do Reino Unido estão num processo frenético para se desvincular da Europa enquanto é tempo.

A América Central dá uma volta por trás do globo para ocupar o lugar da Oceania, que por sua vez é o único continente do hemisfério sul que conseguiu uma elevação para o hemisfério norte, ocupando o lugar da Ásia. Posicionando-se estrategicamente ao lado da América do Norte, para manter a América Central, logo abaixo, continuamente escravizada, quer dizer, levemente explorada. O que também acaba sendo uma posição estratégica em relação à África, que ocupa o lugar do Oriente Médio. Se estabelecendo numa zona pronta para ser reexplorada e redividida pelo EUA e pela Austrália.
A temperatura tende a esquentar no centro da África, que agora está bem em cima do Equador. E os países com taxa de morte alta no norte, não devem se preocupar, a taxa com certeza se manterá, inclusive pelo frio e ausência das nações acima.

Enquanto isto a Ásia dá a volta por trás e ocupa o velho posto da América do Norte; Parabéns Ásia! Isto significa que diferente dos EUA que precisavam atravessar o mundo para explorar pessoas no território leste, países como a China já levam consigo suas próprias zonas de exploração!
O Oriente Médio é o único que tem uma trajetória turbulenta ao passar debaixo da antiga Europa e por cima da antiga África. Mesmo não sendo um continente, se movimenta sozinho pelo fato de que possivelmente os outros continentes já estejam cheios dele, possuindo um rebaixamento geofísico. E assim ocupam o nosso antigo lugar, da América do Sul, recebendo inclusive a honraria do nosso titulo de Selvagens.

E agora nós, que ocupamos o lugar do antigo continente africano! Acreditamos que isto intensificará a ideia internacional de que todos os nossos países são iguais e de que somos “exóticos”. Claro que o Brasil foi premiado com a temperatura e pluviosidade do deserto do Saara.

 Boa noite e boa sorte.”

 

Barbara

domingo, 16 de setembro de 2012

Cadenciando

Atento,

a trajetória determinada evita;
vagar pelo espaço,
entrar em qualquer centro de gravidade,
orbitar em torno
de um dispensável princípio.

Ou pior,
Desatento,
levado para uma dezena de luas,
a mudanças constantes
à deriva da maré de outros.

A casualidade momentânea
leva ao vislumbre
de coisas não desejadas

*


Não tem outro jeito?

Não, pra curar só assim.
Mas desse jeito é terrível! Não é possível, nem tudo precisa pela dor.
Tudo? O que mais você tem feito pela dor?
Eu? (pausa)                   Não sei! Eu não vou ficar lembrando dessas coisas...
(Silêncio)                      Bom, e então?
Você acha que vai doer muito?
Vai.
E depois?
Só depende de você.
Então me explica o que você vai fazer primeiro.
Vou esquentar a faca e enfiá-la na ferida.
Vai me queimar?
Não.
E depois?
Vou puxando o espinho pra fora.
Ta. Então vai de uma vez.
Claro. Se não o espinho quebra e precisamos recomeçar.
Não quero olhar.
Tudo bem, mas você não pode se mexer.
Você vai ter que me segurar.
Não dá.
Tudo bem.

O facão tinha um pouco mais de vinte centímetros além do cabo de madeira. A ferida tinha cerca de oito centímetros de diâmetro e era funda, cor de vinho.

No segundo em que o facão tocou a ferida e a penetrou, os olhos apertados se arregalaram em direção ao teto e a boca escancarou num grito rouco.

O calor se espalhava pelo corpo do homem deitado, a dor já o possuía de uma forma que não se lembrava mais em qual parte do corpo estava a ferida. Ele era a ferida. Sua mente latejava naquilo que lhe parecia uma eternidade.

Ao mesmo tempo um novo sentimento tomava conta do seu corpo e mente. Era forte. Seria capaz de fazer qualquer coisa. Provavelmente assim que acabassem aquilo que estavam fazendo, ele dobraria de tamanho, se tornaria um homem muito mais forte do que era.

Seu pé caminharia firme e descalço pela terra, nada o desequilibraria. Os músculos de suas pernas seriam para sempre rígidos, seus reflexos mais rápidos. A pele brilharia a cada feixe de luz, e os olhos de uma intensidade insuportável.

Ele havia sido a ferida. Ele sabia o que era ser a ferida e aceitar isto. Agora era mais.



“Não me mate não.
Não me pegue, não me corte com a ponta do seu facão.”



Barbara



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Costureira

Diziam que Bia não dava ponto sem nó.
Disso eu não sei, só sei que um dia ouvi Bia dizendo para o moço.


Bordei você a eu como se fosse um achado. Um pedacinho de mau caminho. E costurei. Com linha grossa, da cor da minha vontade! Costurei fingindo te ter por inteiro, fingindo não ter mais nada por esse lugar todo nas mão de outro.

Pronto. – dizia ela.– Tá aqui. Firme. Posso puxa, lasca, até rasga. Mas vou sabe que era  um pedaço teu que tava aqui.

Não bordei numa colcha feito retalho. Nem numa rede pra gasta. Eu bordei foi é em mim, isso sim. Pele com pano. Como se fosse feito da mesma coisa, misturado. E com o mesmo gosto!

Ah, homem, só existe uma coisa que junta as coisa assim. – os olhos dela aumentaram – Só uma coisa pode junta duas assim, é Amor homem! Isso sim. Com ele você junta o que quiser, até a minha pele com teu pedaço. Tão misturado que é impossível separa os dois. Ia precisa de tanto tempo que eu fecho o meus olho antes de vê.

Sabe onde eu te costurei? Não foi no peito coisa nenhuma. Foi é no estômago. Não confio a ninguém mais o controle da minha ansiedade.



Barbara

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Azul bandeira


Hoje o mar está no céu
e a saudade no meu pulmão,
(...)
Segura a minha cantiga
e aquece a alma.                                                            



                      

Breguice enlatada


Antes eu escrevia cartas para as pessoas
Hoje, não mais.

Antes os significados cabiam nos dedos,
Hoje, não mais.

Antes não havia preço que importasse,
Hoje, não mais.

Antes eram só versos,
Hoje, não mais.

Antes era natural,
Hoje, coragem.

Antes se iria,
Hoje, se espera.

Antes era fácil,
E nós não sabíamos.


Barbara