terça-feira, 28 de agosto de 2012

Azul bandeira


Hoje o mar está no céu
e a saudade no meu pulmão,
(...)
Segura a minha cantiga
e aquece a alma.                                                            



                      

Breguice enlatada


Antes eu escrevia cartas para as pessoas
Hoje, não mais.

Antes os significados cabiam nos dedos,
Hoje, não mais.

Antes não havia preço que importasse,
Hoje, não mais.

Antes eram só versos,
Hoje, não mais.

Antes era natural,
Hoje, coragem.

Antes se iria,
Hoje, se espera.

Antes era fácil,
E nós não sabíamos.


Barbara

domingo, 19 de agosto de 2012

É culpa do CRAFT!

Fiquem calmos, mocinhos e mocinhas.


É culpa do CRAFT!
Que inércia! Que preguiça! Quanta dificuldade! Oh ócio venenoso! Que ciclo vicioso!
Há uma dificuldade sem fim em se fazer algo novo. Acredita-se que as perspectivas acabaram, que os furos na história se esgotaram, está tudo nivelado, tudo já mapeado, já criado, socorro! Eles gritam: Socorro!
Juventude perdida. Tudo o que está feito está errado, é excludente, falso, superficial e não corresponde aos verdadeiros sentimentos dos jovens angustiados. Há consciência disso, ufa!
Criatividade.
Alô?
Parece não haver nada a ser feito, tudo parece estar repetitivo, a criatividade não funciona, não alcança.
Os olhos se apertam, as sobrancelhas quase se unem, rugas aparecem, lábios contraídos... O que pode ser feito? Ahhh, não se aguenta ficar focado por mais de cinco minutos numa mesma causa. Impossível. Desiste.
Tudo virou clichê, contraposto com teu oposto. Use o contraposto como clichê e o clichê como contraposto, já foi feito. O brega já é moda, a moda já é brega, e esta inversão já foi feita no mínimo dez vezes.
Como foi feito antes? Como eles conseguiram? Será que naquela época foi tão inovador assim ou eles fingiram para a posterioridade não notar? Socorro. Será que agora a sinceridade é tamanha que não se pode ignorar que já foi feito?
Eles dizem: Faremos o mesmo! Liguem as mesmas vitrolas. Risquem as mesmas coisas. Lá se vão os banheiros femininos...
Chegam-se os CRAFTs, exatamente os mesmos de outrora. Reivindicando as mesmas coisas, de quem é a culpa? Socorro. Isto não funciona, eles pensam. Mas o que mais se fará?
Criatividade. Onde ela mora? Há muito não se encontra.
Mas o que? Tudo já foi feito.
Devem ser os CRAFT`s, uma tentação pintá-los com guache. Como resistir? Um foi feito para o outro, assim como o queijo branco e a goiabada.
Lá está: Um jovem parado com um pincel na mão esquerda e um pote de guache vermelho na mão direita. O CRAFT estendido no chão está apenas a dois metros de distancia, como não pintá-lo? O jovem sua. Sabe que não está certo, já foi feito, mas, mas, mas, pra que mais pode servir um CRAFT?! Ele deve ser pintado com alguma frase de impacto! Ele deve ser pendurado e colado no concreto mais próximo!
O jovem sabe que não vai resistir, que aquilo vai acontecer. Mesmo que tomem seu pincel, sabe que não hesitará em mergulhar o dedo médio e indicador no pote e pintar o que precisa ser pintado. Qual era a frase mesmo? Não importa. Só precisa fazer aquilo mais uma vez. Amanhã prometo que não farei, vou acabar de ler... Vou conseguir. Só um pouco de concentração, eu vou conseguir... Mas hoje não. A tentação do CRAFT está muito próxima.
E mais uma vez ele pintou. E mais uma vez aquilo foi pendurado. E mais uma vez a chuva transformou em goma. E mais uma vez a senhora limpou e pensou, esses meninos não cansam dessa nojeira. E mais uma vez no dia seguinte ele pensou que talvez fosse besteira procurar algo novo ou acabar de ler. Tudo já havia sido dito, pensado, criado, não havia o que fazer. E mais uma vez de noite, dormiu angustiado; aquilo tudo estava errado, mas não sabia o que fazer.
PS: Quem também achar que é tudo culpa dos rolos e rolos de papel CRAFT, assim como eu, estarei amanhã no mesmo lugar de sempre, pintando um CRAFT apoiando o fechamento de todas as fábricas de CRAFT do planeta. Contra o atraso mental!



Barbara

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Mais rápido do que a chuva


Mais rápido do que a chuva
Você e sua consciência


Shh!
O que foi? (pausa) Já está tudo calmo.
Tenho que ficar atento. Não seria a primeira vez.
A tempestade se foi! Acabou. Tudo favorece para seguir!
Não. Ainda não sabemos se ela de fato se foi ou se está adormecida.
E como saberá?
Com o tempo. A vida nos testará.
 
Mas e até lá? Ficaremos enfurnados aqui? O mar é logo ali...
Trezentos metros de areia.
Então!
Assim que nos arriscarmos... BAM! Seremos pegos!
Mas já aconteceu antes e estamos aqui.

E quem suporta uma outra vez?! Aqui dentro está equilibrado...
Mas estamos parados! Nunca vamos saber se ela de fato foi embora.
Claro que sim. Vamos observar daqui de dentro.
Estando aqui dentro, estamos fora da tempestade! Precisamos estar dentro dela para poder sair!
Não vou arriscar meu equilíbrio de novo. Não posso mais suportar esse erro.
O unico lugar equilibrado do furacão é o seu olho. 

Besteira.
Mas você já aprendeu. Talvez no caminho até o mar, ela não volte, e talvez, se voltar, você saiba exatamente o que...
Quanta bobagem. Não vou me iludir, será igual.
Então ela não foi embora, você já admitiu que ainda está ai, adormecida?!
É melhor não pensar em nada disso. Vou seguir com o que já está aqui dentro.
Você vai morrer.
Você não entende, não estou esperando na inércia. Estou aqui, veja, tocando minha vida.
Tua vida é lá fora.
Minha vida é onde estou. Faço o que quiser dela.
Tu vai morrer, docinho.
Para de repetir isto! Deixe-me! Já disse, eu tenho tudo sob controle.
Sozinho. Cê tá aqui sozinho e não tem nada sob controle, porque não tem a coragem de botá o pé pra fora do buraco e fazê o que tem que fazê.

(E de repente seu amigo havia se transformado em uma mulher. E a tempestade recomeçaria, só que desta vez, dentro da caverna)


Barbara

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Põe no chão

Foi dito para por no chão. Então imediatamente foi deixado ali, onde havia sido encontrado; no chão.
- Põe no chão.
Já estava no chão. Apoiada com toda a sua superfície inferior na terra, trocando pesos e forças.
- Põe no chão.
Tornara a olhar como se alguma falha pudesse se revelar. Nada. Tirado do chão e colocado em cima da mesa mais próxima, assim fora deixado. Nada mais estava no chão, só o queixo.
- Põe no chão.
Põe. Uma estranha palavra. Já havia colocado em algum lugar, já havia acrescentado aquilo ao chão... O olhar do outro era intenso.
- Põe no chão.
Há o sentido de se fazer algo funcionar; pôr pra funcionar. E funcionar do jeito esperado não é necessário; pode ser de uma maneira que exploda, que se vire contra... Não tinha como colocar a bacia para funcionar, pelo menos não de forma isolada. Olhou o outro de volta e colocou-se de pé, com os pés firmados no chão a sua frente. O outro assentiu e repetiu.
- Põe no chão.
Sentar no chão.
- Põe no chão.
Deitar no chão.
- Põe no chão.
Deitar de bruços no chão com os braços e pernas abertos, estatelados. Palmas da mão e os pés virados para baixo, encostados no chão.
- Põe no chão.
O sol se põe. E vira pó. Se muda de estado. E como se tudo torna-se as ações óbvias, mudou-se de estado; o ego havia deixado de ser barreira em seu corpo, para ser instrumento. Canelas foram arqueadas para trás, cotovelos suspensos e o queixo puxado como que por uma linha para o céu.
Tum.
Voltar ao normal.
Tum.
Arquear.
Tum.
Voltar.
Canelas e as palmas da mão no chão, os braços levemente dobrados. Mudou-se de estado.
Tum. Tum.
Uma vibração percorre o corpo e de repente não há apego, foi-se a certeza de um pertencimento a si mesmo.
Tum-tum. Tum-tum. Tum.
O modo como levantara não era mais seu. E se aquele corpo não era seu, não havia problema em danificá-lo; saltaria sem corda. Mover com a incerteza de alcançar o outro lado.
- Põe no chão!
A mente não é matéria, nunca foi. Torna-se insuportável registrar, perceber e compreender. Quando a covardia torna-se uma hipótese, não há mais chances, não era mais o que era.
Tum.
O que se segue são apenas ondas...
Era uma vez uma mente parada, estacionada no conforto. Agora? Não mais. Já não está mais em si.
Há de voltar.
E quando voltar, nada será como antes.
E tornará a por no chão.


Barbara

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Igual não é parecido

encarar tudo como algo "à deriva"
como se todo conflito fosse um acidente


Há pessoas que se parecem conosco e há pessoas que se moldam a nós.

Estar atento a não moldar ninguém a nós mesmo é quase que um de ver do bom senso.

A culpa é de ambos os lados; daquele que encoraja o outro a se nivelar igual a si, e daquele que se dissolve em favor de não causar atritos e ranhuras no outro.

Isto não é se doar, não é ser parecido, não é ceder.

É apenas... não ser.

Quem é parecido não é igual, o que só torna tudo mais rico.

Continuo; igual não é só igual nos gostos, mas nos fracassos também. Como crescer com sempre os mesmos fracassos e desesperos a sua volta?

Os opostos não se complementam. Mas os parecidos sim, se encaixam.


E que graça é provocar atritos no outro ou ‘intemperizá-lo’! Fazer isto com sinceridade, longe da esfera do imperialismo e da arrogância chega a ser gracioso. E mais bonito ainda é, deixar-se intemperizar, calejar, lixar, arrancar, alisar, amornar...

Assim, sem fim.



Barbara

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Calcula-se

Em um mundo onde tudo pesa, onde tudo puxa para baixo, onde em tudo há uma força atuando, como se dança? Como pode haver equilíbrio e leveza?

Andando na rua, expondo uma nova ideia, pensando e repensando em toda uma tese já apresentada, tentando lembrar uma piada, em meio a um constrangimento sem tamanho, controlando a temperatura da pele, tentando recitar... São traçadas infinitas perpendiculares que me dividem, comparam ou analisam se há validade na minha existência.

Mas pelo o que eu sei, os resultados não se distanciam muito de dízimas. O fim não sai como o esperado, e depois, a prova final já não condiz com o que foi calculado.

Com tantas forças atuando, com tantos pesos e composições, admira-me que não tenha se contado com o fator surpresa. Como se é capaz de rascunhar e validar a existência de tudo aquilo que se vê, e não ser capaz de prever que haverá uma surpresa?

Há um extra e isto é óbvio.

Eu não acabo onde termino, meus limites não são delimitados pelas linhas de meu corpo. Transpasso. Traspasso.

Quando se lança uma linha em direção a algo, ela reflete de volta para seus olhos de forma infinita, a não ser que você desvie o olhar. Mas se o voltar, a infinita gama de possibilidades se iniciará novamente. Sim, possibilidades, porque se não houvesse vida em mim a linha voltaria da mesma forma, exatamente com a resposta da pergunta que tracejou.

Mas eu tenho vida, não passiva, vida viva. Vida sincera.

Não se pode esperar com certeza um reflexo perfeito da linha que me lançou. Lamento, a refração é inevitável – e incalculável. Contudo, isto tudo não se dá na esfera da imprevisibilidade, de forma alguma. Mas simplesmente no fato de que meus limites não estão visíveis, não são o meu corpo material.

Não caibo no estreito que me foi delimitado.

(continua)

Barbara