quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Põe no chão

Foi dito para por no chão. Então imediatamente foi deixado ali, onde havia sido encontrado; no chão.
- Põe no chão.
Já estava no chão. Apoiada com toda a sua superfície inferior na terra, trocando pesos e forças.
- Põe no chão.
Tornara a olhar como se alguma falha pudesse se revelar. Nada. Tirado do chão e colocado em cima da mesa mais próxima, assim fora deixado. Nada mais estava no chão, só o queixo.
- Põe no chão.
Põe. Uma estranha palavra. Já havia colocado em algum lugar, já havia acrescentado aquilo ao chão... O olhar do outro era intenso.
- Põe no chão.
Há o sentido de se fazer algo funcionar; pôr pra funcionar. E funcionar do jeito esperado não é necessário; pode ser de uma maneira que exploda, que se vire contra... Não tinha como colocar a bacia para funcionar, pelo menos não de forma isolada. Olhou o outro de volta e colocou-se de pé, com os pés firmados no chão a sua frente. O outro assentiu e repetiu.
- Põe no chão.
Sentar no chão.
- Põe no chão.
Deitar no chão.
- Põe no chão.
Deitar de bruços no chão com os braços e pernas abertos, estatelados. Palmas da mão e os pés virados para baixo, encostados no chão.
- Põe no chão.
O sol se põe. E vira pó. Se muda de estado. E como se tudo torna-se as ações óbvias, mudou-se de estado; o ego havia deixado de ser barreira em seu corpo, para ser instrumento. Canelas foram arqueadas para trás, cotovelos suspensos e o queixo puxado como que por uma linha para o céu.
Tum.
Voltar ao normal.
Tum.
Arquear.
Tum.
Voltar.
Canelas e as palmas da mão no chão, os braços levemente dobrados. Mudou-se de estado.
Tum. Tum.
Uma vibração percorre o corpo e de repente não há apego, foi-se a certeza de um pertencimento a si mesmo.
Tum-tum. Tum-tum. Tum.
O modo como levantara não era mais seu. E se aquele corpo não era seu, não havia problema em danificá-lo; saltaria sem corda. Mover com a incerteza de alcançar o outro lado.
- Põe no chão!
A mente não é matéria, nunca foi. Torna-se insuportável registrar, perceber e compreender. Quando a covardia torna-se uma hipótese, não há mais chances, não era mais o que era.
Tum.
O que se segue são apenas ondas...
Era uma vez uma mente parada, estacionada no conforto. Agora? Não mais. Já não está mais em si.
Há de voltar.
E quando voltar, nada será como antes.
E tornará a por no chão.


Barbara

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