A gente nunca espera.
Nem tem como.
Estávamos em muitos numa sala pequena, com um objetivo que parecia ser rápido, mas não era; beber água.
Nos dividimos como numa produção em série, copo, mão, copo, mão, torneira, água, água, transborda, pano, boca, pano, boca, seca, mão, copo, mão, copo, boca, opa, mais um. ...Sentia-me como uma peça daquela engrenagem, não havia um outro porquê da minha existência. Meu objetivo era saciar a sede de todos, quando isto estivesse realizado, algo brotaria como que divinamente no meio da minha existência, e nasceria um novo objetivo para a minha vida.
Mas, no meio de tudo isso, algo acontece.
Posso tentar?
Ouço.
Pode, claro.
Uma melodia truncada começa a sair do piano. Era claro que quem tocava, estava longe de dominar qualquer técnica ou leveza que um piano deve invocar. Mas aquela melodia que saía dos dedos pesados e indecisos, carregava um ar de coragem. Havia tomado coragem para experimentar ali, na frente de todos. Sentia-se tão bem tocando sozinho que não importava que ainda não soubesse, só queria tocar um pouco. A melodia pesada me emocionara.
Ali, no chão, sentei. Quase como se fosse cúmplice daquele que tocava, como se o conhecesse há anos e compartilhasse da sua jornada.
Não havia visto nem seu rosto ainda.
Adormeci, entre as pessoas que não paravam de falar, sem ligar para a melodia pausada que acontecia.
Não passava ainda de uma criança, obrigada pela vida a se portar como adulto. As roupas eram de menino, mas a expressão amarrada era de homem.
Não havia gesto algum para eu fazer, que o emocionaria a ponto de entender minha comoção. Não havia palavra alguma que não seria recebida com indiferença por ele. Muito menos, sorrisos seriam capazes de ser retribuídos.
Então optei por me deixar ser pega, em flagrante. Ali, truncada no tempo por uma melodia truncada, senti seu olhar me observar, como quem quer entender porquê alguém como eu, capaz de identificar todos os defeitos daquela melodia, estaria ali, contemplando-a.
Fingi que não o percebi. Respirei fundo e levantei. Voltei a fazer tudo de forma maquinal, mas mais leve, mais emocionada.
Ele se amoleceu. Amoleceu por ter visto alguém se amolecer com toda a sua dureza.
Mas por que falar disso agora?
Barbara
domingo, 24 de junho de 2012
quarta-feira, 20 de junho de 2012
C'est vrai
Se a corda se afrouxa de um lado, é tolice tencioná-la do outro.
Não há censura nisso, não há porque se ter vergonha.
Quando não estamos bem com nós mesmo, tudo o que sai dos lábios alheios é sem cor e monótono.
A não ser que o interesse no outro derive de paixão. Daí, tudo o que aquele disser, carregará uma enorme importância. E as maiores ilusões e mentiras ali ditas, terão gosto de verdade.
Quando choro
meu coração vira
uma uva passa
Mas quando
é uva
Só chorando hidrata.
Barbara
Não há censura nisso, não há porque se ter vergonha.
Quando não estamos bem com nós mesmo, tudo o que sai dos lábios alheios é sem cor e monótono.
A não ser que o interesse no outro derive de paixão. Daí, tudo o que aquele disser, carregará uma enorme importância. E as maiores ilusões e mentiras ali ditas, terão gosto de verdade.
Quando choro
meu coração vira
uma uva passa
Mas quando
é uva
Só chorando hidrata.
Barbara
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Roda
Escrevi e
rabisquei milhares de vezes. Com medo do poder do que é pensado, do que é
escrito ou falado. Decidi não mexer com aquilo que agora é sagrado (absurdo), e decidi falar sobre outra coisa...
O mundo
escorrendo
aqueles que
não se deixam mudar
hão de
escoar
para fora
deste mundo
pela beira
Já faz tempo
que estamos assim
há de mudar
a natureza
impõe
há de limpar
quem vai
ficar
Vem commala
vem
na roda
completa
há de girar
Uma voz
entoar
a
permanência cair
pelo meio
Vem commala
vem
assim não
irá ficar
há de
transmutar
Há música
no silêncio
Há voz
no nada
Há
onde não há
mais nada
E da terra
queimada
o verde
(re)aparece.
Acabei falando o que ia falar.
Barbara
domingo, 3 de junho de 2012
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Rien du tout
Há seis filmes que são meus.
Falam de mim.
Descrevem-me, delatam-me,
gritam-me sem pudores.
São seis filmes que a maioria já
viu, e que para outros recuso mostrar. Como mostrar se estou descrita ali tão
perfeitamente?
Que vergonha! Todos os meus desejos,
medos, amores, defeitos em seis filmes e eu digo quais eles são?! De forma
alguma.
Não me canso. Que coisa mais
incrível, nos sentirmos tão representados com algo... Não sei mais o que estou
dizendo. Parei.
Seis filmes... As vezes por
vaidade desejo que este número não aumente, para que continuem únicos. Mas
no fim, acho que não mudaria nada, só acrescentaria a beleza e a sinceridade
deles comigo.
De meses em meses venho aqui e
faço um desabafo infantil bem bloguista, parei.
Quais são? Cartografe-me.
Barbara
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