domingo, 25 de novembro de 2012

Lacuna


É como dormir em pé
em um mundo que roda.



Preencher com a respiração
Satisfazer-se apenas com o entre e sai do ar
Preencher com satisfação
Satisfeito pelo preenchimento
Aprovei-me no exercício
da minha própria vida.



É como fluir em paz
na correnteza.



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Rio



Guardião do tempo e da vida, responsável por acelerar e desacelerar o compasso de tudo. Muito mais do que um elemento integrante da natureza ou a base de metáforas. O Rio é aquele que rege, é onde nós estamos. É o aqui e o agora.

Se um dia você se sentar em uma de suas margens, e ali houver águas claras que lhe permitam enxergar o fundo, poderá identificar centenas de pessoas ali sedimentadas. São todos aqueles que se tornaram mais pesados com o tempo, ou que tentaram nadar contra a corrente natural.

O Rio é muito mais do que um juiz; ele determina, dita, cria, modifica e fala. Uma vez dentro dele, aceite que há mais um guardião regendo sua vida. 

Tudo deve seguir como a frase de seu curso, do contrário há de se arrebentar em pedras e quedas. Também há dele ser misericordioso com aqueles que não tentam adivinhar seu caminho ou tentar governá-lo.

Um rio não se cala, não tem o porquê secar, não tem porque parar se há correnteza, não tem porque se revoltar se há calmaria. Ele escurece quando é preciso esconder e proteger, e clareia quando é preciso iluminar.

Se você se deixar levar, integrar e surpreender-se com o que aparece depois da curva, será levado para longe das pedras, e a pontos ainda não imaginados.

Aceitar o tempo do Rio. Um fluxo que muitas vezes queremos que diminua e nos obriga a ir de encontro. E muitas outras vezes queremos que corra, que aconteça, que nos mostre, mas que caminha em completa calmaria, ignorando qualquer anseio de seus navegantes.


Gostaria de saber se rios se encontram ou se no fundo estamos todos no mesmo rio.


Barbara

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Pele

Como se vários percevejos tivessem pousado sobre o seu ombro e antebraço, bolinhas um pouco mais claras do que a pele estendiam-se por toda superfície. Ao puxar a pele para cima e soltar, todas se infiltravam para debaixo dela, como que com vida própria, como que aguardando um sinal.


- Isto está me assustando.
- O que?
- Estas coisas que estão aparecendo na minha pele. Elas parecem estar vivas, olhe.
- Deuses! Como assim? – O outro procurava no chão, após o primeiro tê-las feito desaparecer
-  Não. Entrou para dentro da minha pele.
- E por que você faz isso? Está entrando em você!
- Não consigo evitar. Uma vez que sei que ao puxar, tudo vai desaparecer e entrar, torna-se impossível resistir.
- Mas será que não sempre os mesmos? Pois assim que eles entram, outros aparecem. Podem estar apenas emergindo de volta.
- Não. Veja, pegue aquela caneta. Pronto, vamos marcar este. Agora eu puxo, desaparece, a marca ficou. Lá vêm eles, estão aparecendo novamente e o lugar marcado não tem nada.
- Eles não estão emergindo, estão...
- Pousando.- Estas coisas estão no ar!
- O tempo inteiro entre nós.
- Como você pode permitir que isto entre para dentro de você?
- Não há como, estão aqui...
- Podem estar pousando em mim também! Só que não vejo! Prefiro continuar sem ter certeza...
- Puxe a pele assim, e vamos ver.
- Por que você fez isso?!
- Agora que você já sabe não adianta fingir.
- Você quer me matar! Acho que estou infectado agora, cara! Afaste-se de mim.
- Fique calmo. Eu não estou morrendo, só vejo uma coisa que antes não podia ver.
- Oh não, minha pele está cheia agora!
- Ou não. Talvez antes já estivesse e você apenas não via. Agora vê.
- Como você pode ter certeza que não me infectou? Como pode ter certeza de que já estava ai antes?
- Não posso.

 

Sempre é o meu teste
esqueço-me das minhas partículas
perco a consciência que já havia conquistado
só pela aproximação a ti.
Não há sincronicidade em meus movimentos,
a leveza se mistura com a firmeza,
não queria afastar desta forma.
Vergonha de ser pega em flagrante,
medo de uma situação inesperada
desejando ser surpresa.