domingo, 24 de fevereiro de 2013

Pra dourar

A tua distante tristeza chegou em mim,
o que você espera que eu faça com ela
A tua distante tristeza, chegou em mim.
Quebrando-me como um jarro,
que resistiu por tanto tempo,
por tantos anos,
para ser fácil assim quebrado.

A tua tristeza alcançou-me.
Quebrou-me como um jarro,
que há muito, o tempo sustentava.
Quebrou-me como um vaso,
que algumas flores ainda ornava.

Procure-me com delicadeza,
não deixe nenhum ruído.
Porque só espero,
que dentro do possível,
transformar mais rápido tudo isso
numa nova flor.

 

De repente eu queria escrever apenas melodias. Mas eu não sei na teoria, nem compor, nem uma nota de cor se quer. Aliás de cor, só suas cores, suas causas e gostos.

É água, senhor.


Barbara

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Calunga *1



Escrevo agora em curtas frases, pois as grandes já não valem mais a pena.



Calunga é mar
num é mar porque num faz bondade
é mar porque é grande que nem o mar
calunga é mar
porque o mar é sargado
igual as lagrima das gente
calunga é mar
porque é o mar que junta tudo
e que tudo afasta, ié
calunga é mar
porque o mar da medo na hora certa
homem crescido, duro da vida
teimosia crescida, ai vai
vai te medo do mar, ié
menino moço, sorri
menina sorri na roda, de volta
num tem medo, não sinhô
ai mar convida
calunga chama
canta pra menina
se calunga ta longe, a lua chama
cheia, a chama
seus olho fala
serena menina, serena
aquieta esse coração
serena menina, serena
que eu vô cantá pra tu acarmá
ê ê calunga vai cantá
calunga é mar
mar, e meu coração?
mar porque num é rio
mar, porque num é eu?
calunga é mar
mar, e meu coração?
porque mar é confessionário
é quem decide acima de tudo
de cima do céu
ninguém recebe mais prece
calunga é mar.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O impossível perene

A vida é feita de momentos impossíveis.
Na criação do universo não houve espaço para eventos possíveis.
O possível é pouco, ele já existe desde sempre e para sempre existirá.
Quando algo é criado, ele precisa ser necessariamente impossível.
Do contrário, ele já existe. E se ele já existe, não foi agora criado.

A vida é feita de momentos impossíveis.
Nós nos deparamos com eles a cada instante que respiramos e optamos por continuarmos vivos.
E em todas às vezes somos encurralados pela chance da escolha.
A existência da escolha é a única existência não arbitrária, que existe como a grande e única imposição da vida.
A grande ditadora.
Temos a escolha de realizar aquele momento impossível ou tangenciá-lo.

De frente para o momento impossível, temos a sensação de quase morte.
Não se sabe o que vai acontecer.
Não há certezas. Aqui vou eu mais uma vez no mar de incertezas. [tudo]
O medo do fracasso é maior do que tudo.
O medo da vida coloca-se como o maior grau de respeito que já sentiu.
Ao aceitar esta situação, ao aceitar que nada está em minhas mãos.
Torno-me um ser respeitoso das leis do universo.

Deparar-se com o momento impossível e acovardar-se.
Optar por não arriscar. Não vou. Não aceito.
Esquecendo que só ao respirar a cada instante, já está se desafiando o impossível e tornando-o possível.
Tornando-o real.
De frente àquilo, falta paixão, falta coragem. Porque se esqueceu que já fez e faz aquilo a toda instante.
Vai-se embora de costas, com o olhar baixo. Sua sombra o perseguirá.

Deparo-me com o impossível e com a completa impossibilidade de ignorá-lo.
Além de tudo que me invade ganho uma ansiedade sem tamanho.
Um fascínio pelo suicídio. Uma curiosidade sem fim, não podendo ser ignorada.
É inaceitável não vivenciá-lo.
Torná-lo possível e a partir disto real.
Encaro quase sem respirar aquele novo momento.
Não consigo visualizar a solução, o caminho que será feito, mas não há como ir embora.
Desejo mais do que tudo e preciso daquele momento. Vou fazer.
Deito-me no impossível.

A curva.
Estar exatamente na curva. Nem um pouco antes, nem um pouco depois.
Naquele momento que você já escolheu continuar na correnteza.
Remou mais forte. O vento está cada vez mais presente.
Em questão de segundos o novo será vislumbrado.
Para nem falar no infinito de possibilidades que podem surgir.
Medo de ter escolhido morrer.
Medo de ter que encarar mais águas calmas.
Medo de a correnteza aumentar, sem vislumbre do próximo momento de descanso.
Ansiando por uma nova parada.
Ansiando por ser obrigado a continuar.
Aceitando que seu próprio desejo é paradoxal, por conta da consciência do impossível.
Tudo dura um segundo, onde mente, corpo e alma vibram numa freqüência insuportável, que em algum lugar é eterna.
Não poderia ter escolhido outra coisa.
Obrigado vida por ter me deixado escolher a dor mais prazerosa que já senti em minha vida.
Não posso mais respirar.
...


Barbara