terça-feira, 29 de maio de 2012

Penso


a gente acha que pensar dá azar

as vezes,  a gente  acha que é terapia

as vezes é ilusão

pensar não devia mudar nada
                                               na prática

só no coração.



mas é ai que está

o poder da palavra pensada.



tem  vez que quando penso
                                           me entrego

fica ali, feito vidro, transparente.



que faz diferença quando falo
                                              eu sei

mas quando penso, parece que você escuta

e se escuta, não é pra escutar

porque eu só pensei



está ai, o problema da palavra    
                                                    pensada

é você escutar e pensar 
                                          que eu falei.



Barbara

terça-feira, 22 de maio de 2012

da Dança e do Canto


Todo mundo sabe dançar e cantar. Não, eu quero dizer cantar em um tom mais do que agradável e dançar de forma mais do que natural. Falo que todos podem fazer bem.

O que os impede são bloqueios de ordem psicológica e emocional, em função do quanto mais perto de nós mesmos estamos. Ao passo que é diretamente proporcional a como melhor executamos estas duas ações.

Como nomear e racionalizar este raciocínio.

Nós criamos algumas divisões para o nosso corpo; chakras, tipos psicológicos, tipos energéticos, tipos de temperamentos, sombras (...). E dentro de cada uma, sempre há uma categoria que confere apenas a nossa sensibilidade; chakra cardíaco, coronário, sinestésicos, sensitivos, fleumáticos, sombra sensória (...). E quando tratamos desta categoria, é de Dança de que estamos falando.

Dança é sugerida para ativar nossa sensibilidade, Dança é a conseqüência de quando a ativamos, Dança é o que aparece em nossos transes, meditações ou sonhos, quando a nossa cura, naquele momento, está sob os domínios da sensibilidade.

E tomo como claro que este sensível não é o carente ou aquele de significados banais e atribuições cotidianas. Mas tudo o que corresponde a um significado mais profundo; de intelectual sensível, da sensibilidade da pele que torna capaz uma boa leitura corporal, da sensibilidade intuitiva que permite tocar com um olhar (...).

Da mesma forma tudo também acontece no Canto. Para se cantar em público, de forma doce, agradável e bonita, exige-se um desbloqueio ou uma quebra de nós internos.

Porém, antes de seguirmos, sugiro um olhar direcionado para as crianças. Crianças são moles, comportam-se como geleias. Dançam e cantam sem nenhum problema, pois são desprovidas de nós, engessamentos, ranhuras, lascas e qualquer coisa que as impeça de fluir naturalmente. E além de tudo, são destituídas de Ego – ou ainda o tem em formação.

Sem o Ego, somos carentes de um ciclo que se corresponde em todos os sentidos e direções. O triângulo do Ego, Vaidade e Vergonha. Um é a causa e conseqüência do outro.

A criança que não sofre deste triângulo não vê problema em exteriorizar sua sensibilidade, através do Canto e da Dança. O resto das pessoas, criam nós e barreiras para impedir sua pulsação natural, para sufocar suas vibrações e assim adoecerem por sufocá-las.

Dançar e Cantar de forma equilibrada, é algo que todos nasceram capazes, mas como muitas virtudes que temos, perdemos ao nos afastarmos de nós mesmos. Na nossa atual realidade, crescer é sinônimo de se perder, e não se conhecer mais.

Para realizar-se, precisa-se conhecer todas as possibilidades daquele instrumento que vai se utilizar. Para viver, precisamos entender profundamente o nosso corpo, nossa alma e espírito, da superfície ás profundezas; todos os limites e todas extremidades. Do contrário, não há como aproveitá-lo e dar o nosso melhor. Isto tudo, sem levar em consideração que somos uma fonte infinita e ilimitada.

Não estou excluindo as outras formas de manifestação artística – sim, porque são estas que atuam diretamente na nossa sensibilidade – mas, as duas que estou descrevendo merecem destaque, pois exigem presença. Exigem que o corpo do sujeito esteja ali no momento.

Este texto exige da minha sensibilidade, mas não exige que eu encare os meus leitores enquanto escrevo. Há brechas para proteger minha vaidade se tentarem feri-la. Agora, ao cantar, não. Mesmo gravado, a presença da pessoa é perene.

Por fim, sem esquecer que Dançar e Cantar são ações de prazer para todas as pessoas, que por sua vez, dividem-se entre: os que fazem de forma plena; os que fazem com turbulências; que gostariam de fazer, mas acham que não conseguem; e aqueles que acham que não gostariam de fazer. Eu acuso ser impossível alguém não gostar de Dançar ou Cantar. Sim. Classifico estas duas ações como, essencialmente, intrínsecas ao ser humano.

Cuidem delas.

Barbara

terça-feira, 15 de maio de 2012

Greve das Abelhas, parte III

Parte I - Aqui
Parte II - Aqui


Todos sentiam o peso de seus passos. Era agora. Justamente agora, conheceriam a fonte de todo o seu conforto nos últimos... Sabem lá deuses quantos anos. Como seria? O Gordo pensava num lugar muito grande e espaçoso, onde todos não passariam de pequenas formigas diante de tanta magnitude.

Lucas achava que era uma pequena torneira. Uma torneira que só reconhecia o toque das digitais de seu Frederico. Uma torneira suspensa no meio de um terreno, com cano algum a ligando á sua fonte. Mas ao torcê-la, a terra era regada com o conteúdo das garrafas.

D. Laura não pensava em nada, apenas andava equilibrando o peso de seus seios. Aquilo tudo não cheirava boa coisa pra ela... Também! Como haveria de cheirar? Seu Frederico estava era muito são, isso sim. Logo, para toda aquela loucura estar como estava, a coisa devia ser grave. Tirou as penas que tinha no bolso do avental, o sal que havia grudado nelas e juntou tudo com as contas que tinha em volta do pescoço. Aquilo tudo havia de ajudar... Ah, havia.

O Carteiro pela primeira vez se preocupava com seu serviço. Estava acostumado a fazer algumas pausas no boteco do seu Joaquim no meio do expediente, ou parar para beliscar um pão de D. Laura que descansava a janela. Mas nunca ficara tão fora dos seus deveres como agora. Distanciava-se da rua! Não havia nem entregue a metade das correspondências do dia, para ter uma pausa tão longa desse jeito. Ah não, amanhã teria que trabalhar o dia todo corrido para compensar, ah não.

- Oh minha gente. – disse como que despertando de um sono profundo – Acho que a gente não precisa ir até lá não. O senhor não mentiu, mentiu seu Frederico?

Frederico continuara a andar a passos largos, como se nada tivesse acontecido.

- Pois então! – continuou o carteiro – Gente, gente – ele tentava alcançar os outros – Vamos sossegar! Amanhã estará tudo resolvido! – ninguém o ouvia – Amanhã tudo será como antes. Todos nós temos tantos afazeres... – de repente eles diminuíram o andar, como se o escutassem de fato. O Carteiro se animara – É isso ai! Amanhã seu Frederico nos abastecerá novamente...

- Não!

Todos pararam. Frederico gritara. Nunca ninguém havia ouvido a voz do homem naquela altura. Ou melhor, nunca tinham ouvido mais do que alguns grunhidos dele, ou palavras cortadas.

- Não. Amanhã eu não trarei. Porque... Porque... Porque elas entraram em greve.

Todos pararam. Ele havia dito aquele absurdo novamente. D. Laura quase engolira o amuleto que passava entre os lábios. Lucas sentiu seu coração virar uma uva passa. O Gordo achou que preferiria fazer dez exames daquele de correr na esteira do que acreditar que aquele momento era real.

Frederico já imaginara aquelas reações. Afinal, o que mais podia se esperar? Elas estavam em greve! Diabos, em greve! 

- Vamos, falta apenas alguns metros. O rio aparece logo depois daquela esquina, e ai.. Bom.


Barbara

domingo, 6 de maio de 2012

I.

(parte I)

ai socorro
to a perigo!

Eu nunca vi ninguém me convencer tão bem, quanto eu mesma!
E geralmente é a fazer besteira

ai que difícil lidar com minha lábia!
socorro
socorro
por isso eu vou dormir cedo
acordada não dá

ai ai ai

Não me responda!
Se afaste! Cuidado!
Eu não sei do que sou capaz!
Não me ouça, se não eu vou te convencer!

ai tudo errado
que difícil ter um coração

Posso trocar?
Troco o meu coração por 2Kg de presunto!
Qualquer coisa sem emoção


não volte-se para mim
por favor
não fique contra o vento

fuja para longe

Não se engane
meus dedos são rápidos, ágeis
minhas pernas prendem
não acredite em nada


Me proíba, sem olhar pra trás
Os olhos?
Por favor não os encare
esqueça-os

Não deixe que eles te peguem
eles são terríveis, maliciosos, sabem te circundar
Meus olhos invadem, você sabe
não há pudor

socorro, fuja
tudo ficará verde, não os encare

tudo escorre por eles
ali é perigo
Sempre é tudo verdade
                      e esse é o problema.




Barbara

Achei aqui em casa

Achei um rascunho em forma de bilhete que dizia assim: (nunca cheguei a entregá-lo)

Na minha adolescência eu tive um anel, assim como o seu que estive usando esses dias. Ele continha doze anéis entrelaçados, como se fossem doze chaves para outros portais, outras dimensões. Era da minha mãe e passou pra mim, e assim, me roubaram no ônibus. Fiquei muito triste, imagino que nunca mais voltarei a vê-lo. Usando o seu anel esses dias, matei a saudade. Não se preocupe, não o quero. Tentarei achar outro que seja como o meu antigo anel.

*
Brincando numa folha de fichário: (não foi nem nesse ano)
A alma não é pequena, porque a alma não é.
E se ela não é, ela não pode ser, e não pode ter, e não pode ser tida, ou contida. Nada pertence à ela, logo ela não pode pertencer.
Sem eira nem beira, sem tempo, sem espaço. Sem vácuo. Sem dor, cheiro ou forma, ou forma, ou forma.
Ela é uma f(ô)rma que formou e moldou tudo e todos.
Há de ser uma alma
                     então por que nos separar?

*

Um mundo onde 3inta é a metade
De 30 em trinta
Faltam 30 minutos
Trinta minutos para
30 = 50
Dois = trinta
3 mais 0 = 3 pilares
Mundo triplamente + 0
Aos trinta a folga acaba


Só falo besteira.

Barbara