Parte II - Aqui
Todos sentiam o peso de seus
passos. Era agora. Justamente agora, conheceriam a fonte de todo o seu conforto
nos últimos... Sabem lá deuses quantos anos. Como seria? O Gordo pensava num lugar muito grande e espaçoso, onde todos não passariam de pequenas
formigas diante de tanta magnitude.
Lucas achava que era uma pequena
torneira. Uma torneira que só reconhecia o toque das digitais de seu Frederico.
Uma torneira suspensa no meio de um terreno, com cano algum a ligando á sua
fonte. Mas ao torcê-la, a terra era regada com o conteúdo das garrafas.
D. Laura não pensava em nada,
apenas andava equilibrando o peso de seus seios. Aquilo tudo não cheirava boa
coisa pra ela... Também! Como haveria de cheirar? Seu Frederico estava era
muito são, isso sim. Logo, para toda aquela loucura estar como estava, a coisa
devia ser grave. Tirou as penas que tinha no bolso do avental, o sal que havia
grudado nelas e juntou tudo com as contas que tinha em volta do pescoço. Aquilo
tudo havia de ajudar... Ah, havia.
O Carteiro pela primeira vez se
preocupava com seu serviço. Estava acostumado a fazer algumas pausas no boteco do
seu Joaquim no meio do expediente, ou parar para beliscar um pão de D. Laura que
descansava a janela. Mas nunca ficara tão fora dos seus deveres como agora.
Distanciava-se da rua! Não havia nem entregue a metade das correspondências do
dia, para ter uma pausa tão longa desse jeito. Ah não, amanhã teria que
trabalhar o dia todo corrido para compensar, ah não.
- Oh minha gente. – disse como
que despertando de um sono profundo – Acho que a gente não precisa ir até lá
não. O senhor não mentiu, mentiu seu Frederico?
Frederico continuara a andar a
passos largos, como se nada tivesse acontecido.
- Pois então! – continuou o
carteiro – Gente, gente – ele tentava alcançar os outros – Vamos sossegar!
Amanhã estará tudo resolvido! – ninguém o ouvia – Amanhã tudo será como antes.
Todos nós temos tantos afazeres... – de repente eles diminuíram o andar, como
se o escutassem de fato. O Carteiro se animara – É isso ai! Amanhã seu
Frederico nos abastecerá novamente...
- Não!
Todos pararam. Frederico gritara.
Nunca ninguém havia ouvido a voz do homem naquela altura. Ou melhor, nunca
tinham ouvido mais do que alguns grunhidos dele, ou palavras cortadas.
- Não. Amanhã eu não trarei.
Porque... Porque... Porque elas entraram em greve.
Todos pararam. Ele havia dito aquele absurdo novamente. D. Laura quase
engolira o amuleto que passava entre os lábios. Lucas sentiu seu coração virar
uma uva passa. O Gordo achou que preferiria fazer dez exames daquele de correr
na esteira do que acreditar que aquele momento era real.
Frederico já imaginara aquelas
reações. Afinal, o que mais podia se esperar? Elas estavam em greve! Diabos, em
greve!
- Vamos, falta apenas alguns metros. O rio aparece logo depois daquela esquina, e ai.. Bom.
Barbara
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