quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Destinatários



Medida tomada
efetiva na palavra
pelo coração ignorada.



Ali ficou
embaixo dos pontos quentes
entres as frias pedras
esperando para ser resgatado.



Agora pra você
não tenho nada pronto
ficamos a mercê
do nosso feliz desencontro.




Barbara

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Zen pessoal

Ato de confundir; bom ou não?

Por que as coisas que dão mais equilíbrio e plenitude, são todas aquelas que estão na beira do descontrole e de um descompasso?

Por que não posso sentar nelas e descansar? Por que tenho que permanecer vigiando?

Por que não podemos saber quando tem chão?

Por que temos que passar um bom tempo em agonia debaixo da água, especulando se vai haver fundo para podermos dar um impulso e voltar? Se no final há.

Por que quando descobrimos coisas não podemos esquecê-las?

Por que desejamos o que não conhecemos? É bom ou não para ansiedade?

Por que todos sofrem de ansiedade crônica hoje?

Que diferença faz ser uma semente ou uma pedra?

Qual a diferença entre seguir em frente e descansar e seguir em frente e largar tudo?

Por que o açúcar se torna doce e as pessoas amargas?

Por que viemos das montanhas?

O que é imobilidade em nossa dimensão? Ela é real?

Por que a única forma de liberdade é a aceitação?

Por que a cura é perene?

Por que a consciência não ameniza a dor?

Quem gostaria de tentar responder estas perguntas?
E quem gostaria de ser obrigado?


Barbara

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Inusitado

Dessa vez seus olhos se arregalaram verdadeiramente. As sobrancelhas se arquearam sem hesitação, e toda a respiração ficara presa dentro do peito. Explodiria se a pessoa de trás não o tivesse empurrado.
Queria ficar eternamente ali. Era a mais linda que já havia visto. Deixou passar os cinco turistas que já estavam a resmungar atrás e manteve o seu ponto de observador central da obra. Não sairia dali tão cedo. Não, de jeito nenhum, tinha andado por muito tempo para ver algo que valesse tanto a pena. Era ali que ficaria até seus olhos arderem por não piscar, e suas pernas gritarem pelo banco a cinco metros de distancia.
Já havia percorrido todos os lugares do mundo em busca de algo que lhe tocasse tanto. Dos museus nacionais às casas antiquadas, dos grandes curadores aos senhores arrogantes em suas pequenas propriedades. E todos tinham passado pelos seus criteriosos olhos. Todos tinham sido percorridos com plena atenção e desejosa ansiedade.
Piscar diante deste achado seria perda de tempo.
O tamanho era ideal, não poderia ter imaginado melhor. Nem tão grande que fugisse dos seus olhos próximos, nem tão pequena que precisasse torná-los semicerrados. As cores; nada mais óbvio, como não havia pensado nisso antes! Sempre procurando um padrão que valorizasse uma estética clássica, sempre procurando o mais adequado, e elas eram tão lógicas, tão perfeitas em seu desenvolvimento que só poderiam ser elas, desde o princípio.
Quem teria sido o gênio daquela peça? De que época seria? Há quanto tempo estaria ali, colocada ao lado de tantas outras que não chegavam a seus pés?
Começou a sentir um incomodo crescente e notou que ainda não eram suas pernas. Mas um grupo agitado que pretendia ver a exposição inteira e não ficar atrás de um fanático prestes a ter um acesso de loucura para continuar no lugar em que estava. Deixou-os passar.
Para a sua surpresa eles não foram embora, mas ficaram a admirar a peça, acabando por tampar toda a sua visão. Que inferno. Não era possível, que eles estavam a analisar justamente aquela peça. Ele reconhecia que ninguém saberia da importância daquela obra como ele, não havia porque deles se debruçarem nela. Foram-se.
A verdade é que o museu fecharia em breve e ele teria que ir. Mas também era verdade que voltaria no dia seguinte, e no outro, e no outro. E quem sabe dali algumas semanas, faria uma proposta para o diretor do museu acerca de um valor para a obra. E também era verdade que ele negaria, e que seria obrigado a lhe subornar até que finalmente, trocariam os objetos na véspera de um feriado.
As luzes piscaram, precisava ir embora. Despediu-se com os olhos apertados.
Quando acordara naquela manhã, não imaginara que iria finalmente encontrar a moldura mais linda que já havia visto. Depois de tantos anos percorrendo museus e casas de velhinhos antiquados, sem olhar para nenhuma pintura, gravura, desenho. Sem nem lembrar das grandes obras que havia estado na presença. Apenas percorrendo os olhos furiosamente por todas as suas extremidades, por todas as suas molduras, até achar a perfeita.
E agora havia encontrado. O vazio mais lindo que já havia imaginado.
O que ele colocaria dentro já era uma nova questão.


Barbara

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Ementa

Um assunto que sempre retorna, trazido ou não pela grande roda, ou pela necessidade eminente. Gosto de falar nele. É algo que vem chegando levemente a meu esclarecimento como que por graça.
[permanecer em estado de graça]
E também como que por permissão divina.


Ser tocado pelo sagrado.
Faz tempo que não falo da minha citação favorita, e posso apostar que chegou o momento para retomá-la, Rubens Alves diz assim:
“Há verdades que são frias e inertes, nelas não se dependuram nosso destino. Quando, ao contrário, encontramos verdades em que nos dependuramos, o corpo inteiro estremece. E estremecer é a marca emocional e existencial da experiência com o sagrado”.
Posso falar por horas e horas a respeito de todos os multiversos contidos neste trecho. Mas vou comentar apenas sobre este “encontro”.
Onde podemos encontrar?
[onde podemos nos encontrar?]
Só encontra quem procura. Mas não adianta procurar no escuro, sem seus óculos, ou sem saber o que se quer achar. E se ainda o que quiser estiver em um formato completamente desconhecido pra você? Você nunca vai identificar.
Precisa-se sair para uma busca bem equipado, com lanternas, óculos e com a bibliografia lida. Precisa-se de palavras para descrever o que vai se ver, sentir, ouvir, degustar.
Precisa-se estar com a alma disposta. Não equilibrada, mas disposta e viva.
O difícil é calar a voz da boca e da mente, e manter a da alma falante.
Uma ultima ferramenta que também deve estar à mão; a atenção. Estar atento a todos os sinais que você mesmo envia, e que capta de certo e errado. Estar atento para se mover ao mesmo tempo com graça e agilidade.
Estar em um momento de estremecimento, é um momento de graça; não raro; e sagrado. Mas também é um momento de vulnerabilidade e conexão.
Se uma pessoa lhe causa um estranho estremecimento ao lhe tocar, lhe falar, ou apenas em você se lembrar dela. Um estremecimento que gera um doído prazer. Fique com ela.
 
Eu digo a verdade e você diz obrigado.

Barbara

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A todo instante

Em defesa de todo pensamento julgado como não importante, em um pequeno recorte:

 
Espera um pouco que estou escrevendo, a música acabou de começar e acabei de me alinhar.Sinto o vento novamente pelas minhas pernas, é o mesmo vento de um ano atrás, a vibração me envolve novamente, mas desta vez ela é identificada e permitida.
Sim senhora, pode ficar por aqui. Sim, aqui se aceita tudo o que faz bem, tudo que preza pelo bem estar de tudo e de todos.

Claro que as palavras se confundem, você já compôs uma melodia? É bem parecido. Tudo está bem ali, mas é como se precisassem de um orgasmo para materializá-la, dor misturada a prazer. Uma vibração pura demais para nos acostumarmos com ela.

Sim, sim, estou escrevendo. Pra mim? Não traga nada muito gelado nem muito frio. Foi-se o tempo em que o desconforto me agradava ironicamente, preciso de plenitude a todo instante. Tornou-se mais impossível viver infeliz do que feliz, graças a deus.

Graças a deus.

Aceito a dificuldade momentânea para depois satisfazer-me. Encaro com mais facilidade o desapego dolorido, ferindo como faca, para depois enfeitar a cicatriz. Aceito, aceito todos os desafios, melhor do que nada, melhor do que regularidade.

Sim, senhor. Prefiro assim, sem açúcar.
Sim, senhor. Choro com frequência. E você? Posso indagá-lo até achar uma brecha em seu emocional, e desequilibrá-lo para apenas ajudá-lo a achar uma cura? Posso? Permite-me esta intimidade?

Sim, foi isso que escrevi. Pode colocar pouco, ando sem fome.
Quando temos descargas de adrenalina, nosso apetite diminui para só o necessário para nos manter vivos. Ultimamente isto tem sido constante.

Nascer é um dos maiores exercícios físicos que podemos enfrentar durante a vida. Na verdade, estava escrevendo sobre uma ideia de que talvez passemos a vida inteira procurando experiências parecidas com a de nosso nascimento. Poucos têm o privilégio de nascer de novo. Poucos se dão este direito.

Dê a ela mesma o direito de se levantar sozinha. A ajuda pode se mostrar das formas mais variadas.

Acredito que seja necessário um longo período de abstinência para se avaliar a verdadeira importância daquilo. Se há uma verdadeira falta.

Silencio, só um instante, gosto desta musica quero ouvi-la inteira.



Barbara (um flagrante meu, de meus próprios pensamentos durante 3s)