Dessa vez seus olhos se arregalaram verdadeiramente. As
sobrancelhas se arquearam sem hesitação, e toda a respiração ficara presa
dentro do peito. Explodiria se a pessoa de trás não o tivesse empurrado.
Queria ficar eternamente ali. Era a mais linda que já havia
visto. Deixou passar os cinco turistas que já estavam a resmungar atrás e manteve
o seu ponto de observador central da obra. Não sairia dali tão cedo. Não, de
jeito nenhum, tinha andado por muito tempo para ver algo que valesse tanto a
pena. Era ali que ficaria até seus olhos arderem por não piscar, e suas pernas
gritarem pelo banco a cinco metros de distancia.
Já havia percorrido todos os lugares do mundo em busca de
algo que lhe tocasse tanto. Dos museus nacionais às casas antiquadas, dos
grandes curadores aos senhores arrogantes em suas pequenas propriedades. E
todos tinham passado pelos seus criteriosos olhos. Todos tinham sido
percorridos com plena atenção e desejosa ansiedade.
Piscar diante deste achado seria perda de tempo.
O tamanho era ideal, não poderia ter imaginado melhor. Nem
tão grande que fugisse dos seus olhos próximos, nem tão pequena que precisasse
torná-los semicerrados. As cores; nada mais óbvio, como não havia pensado nisso
antes! Sempre procurando um padrão que valorizasse uma estética clássica,
sempre procurando o mais adequado, e elas eram tão lógicas, tão perfeitas em
seu desenvolvimento que só poderiam ser elas, desde o princípio.
Quem teria sido o gênio daquela peça? De que época seria? Há
quanto tempo estaria ali, colocada ao lado de tantas outras que não chegavam a
seus pés?
Começou a sentir um incomodo crescente e notou que ainda não
eram suas pernas. Mas um grupo agitado que pretendia ver a exposição inteira e
não ficar atrás de um fanático prestes a ter um acesso de loucura para
continuar no lugar em que estava. Deixou-os passar.
Para a sua surpresa eles não foram embora, mas ficaram a
admirar a peça, acabando por tampar toda a sua visão. Que inferno. Não era
possível, que eles estavam a analisar justamente aquela peça. Ele reconhecia
que ninguém saberia da importância daquela obra como ele, não havia porque
deles se debruçarem nela. Foram-se.
A verdade é que o museu fecharia em breve e ele teria que ir.
Mas também era verdade que voltaria no dia seguinte, e no outro, e no outro. E
quem sabe dali algumas semanas, faria uma proposta para o diretor do museu
acerca de um valor para a obra. E também era verdade que ele negaria, e que
seria obrigado a lhe subornar até que finalmente, trocariam os objetos na
véspera de um feriado.
As luzes piscaram, precisava ir embora. Despediu-se com os
olhos apertados.
Quando acordara naquela manhã, não imaginara que iria finalmente
encontrar a moldura mais linda que já havia visto. Depois de tantos anos
percorrendo museus e casas de velhinhos antiquados, sem olhar para nenhuma
pintura, gravura, desenho. Sem nem lembrar das grandes obras que havia estado
na presença. Apenas percorrendo os olhos furiosamente por todas as suas
extremidades, por todas as suas molduras, até achar a perfeita.
E agora havia encontrado. O vazio mais lindo que já havia
imaginado.
O que ele colocaria dentro já era uma nova questão.
Barbara
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