De onde vem o que eu digo?
É com freqüência que debruço-me
sobre sentimentos e com grande esforço que inclino-me em direção ao que me é
lançado.
Aqui mora um raciocínio
invertido, perene.
- Disseram que era a sala da
esquerda. A única sem janela, por falar nisso.
O corredor parecia sem fim. E
pelo o que a vista enxergava, sua eternidade se estenderia por mais quase um
quilometro, sem qualquer sinal de portas a esquerda.
Na metade do caminho tiveram
vontade de voltar; será que alguma porta havia passado despercebida? Não era
possível, podiam ver o fim do corredor, sem saída, já fazia alguns minutos, e a
cada passo que davam mais imóvel tudo parecia.
Imobilidade. Era disso que o
mundo era feito, pensaram ao mesmo tempo. Pelo menos foi o que lhes disseram.
O mais alto sentiu-se obrigado a
olhar para o chão como que para ter certeza de que este não se movia na direção
contrária de seus pés. Nada, eterna imobilidade.
- Espera. Preciso respirar. – O
outro apoiava-se na parede da esquerda.
- O que foi? – Havia tropeçado
quando o amigo quebrara o silencio. Fazia muito tempo que nenhum deles se
pronunciava. Aliás, desde quando entraram no corredor... Quanto tempo já fazia?
Parece que...
- Estou ficando tonto. Sinto como
se tudo estivesse se movendo.
- Sério? Eu sinto como se tudo
estivesse completamente imóvel. Inclusive nós.
- Isso, eu também. Foi isso que
eu quis dizer.
O corredor era iluminado por uma
luz fraca que impedia a completa escuridão de engoli-lo, mas que também não
permitia se ter certeza sobre qualquer coisa que a vista alcançasse, até se
estar até 3m dela.
Ao olhar a camisa xadrez do amigo
subir e descer incessantemente em seu peito, decidiu seguir.
- É melhor continuarmos, não
acha? Atormenta-me parar ao lado destas portas. Sinto como se elas pudessem
abrir a qualquer instante.
- Sim, sim, claro. – Voltando a
caminhar – É a da esquerda, certo?
- É. É a da esquerda.
- Acho que ainda não a perdemos,
não.
- Tenho certeza que não.
- Como pode ter certeza? – O
outro estava duas passadas a sua frente – Acha que ela vai abrir?
A ausência de qualquer ruído de
resposta só poderia significar uma confirmação.
Depois de um pouco menos de
algumas horas e um pouco mais do que gostariam, o corredor parecia estar
finalmente se movendo; o fundo estava mais próximo, e tão logo reduziram as
passadas. Por mais que estivessem avistando o esperado, seus estômagos reviraram-se
em um nó; uma porta de aparência normal encontrava-se no fim do corredor à
esquerda.
Pensar com clareza
ouvir com clareza
ver com clareza
como já dizia...
Não havia plano sequer traçado,
muito menos algum tipo de armamento que pudessem contar. Apenas o olhar de um
para o outro e a certeza de que não havia caminho de volta, se não através
daquela porta.
Larga teu nome
Larga tua forma
apoia-te no firmamento
e acompanhas o balanço
do que cresce e deixa o tempo pra trás
para aquele que a tudo estende e densifica.
A porta não se abriu, o cheiro
não se alterou – o que não deixava de ser um bom sinal – e o tempo continuou a correr em seu compasso natural. Era pior,
muito pior do que uma surpresa. Teriam que abrir quando decidissem por si
mesmos, e assim que o fizeram encontraram também o que esperavam. O que era
pior, muito pior do que serem surpreendidos.
Aceite que é um pouco mais do que isso,
Tudo isso só foi pra dizer que
(Re)ler também Calunga*1
Barbara