sábado, 22 de junho de 2013

Tinha

De onde vem o que eu digo?
É com freqüência que debruço-me sobre sentimentos e com grande esforço que inclino-me em direção ao que me é lançado.
Aqui mora um raciocínio invertido, perene.


- Disseram que era a sala da esquerda. A única sem janela, por falar nisso.
O corredor parecia sem fim. E pelo o que a vista enxergava, sua eternidade se estenderia por mais quase um quilometro, sem qualquer sinal de portas a esquerda.
Na metade do caminho tiveram vontade de voltar; será que alguma porta havia passado despercebida? Não era possível, podiam ver o fim do corredor, sem saída, já fazia alguns minutos, e a cada passo que davam mais imóvel tudo parecia.
Imobilidade. Era disso que o mundo era feito, pensaram ao mesmo tempo. Pelo menos foi o que lhes disseram.
O mais alto sentiu-se obrigado a olhar para o chão como que para ter certeza de que este não se movia na direção contrária de seus pés. Nada, eterna imobilidade.
- Espera. Preciso respirar. – O outro apoiava-se na parede da esquerda.
- O que foi? – Havia tropeçado quando o amigo quebrara o silencio. Fazia muito tempo que nenhum deles se pronunciava. Aliás, desde quando entraram no corredor... Quanto tempo já fazia? Parece que...
- Estou ficando tonto. Sinto como se tudo estivesse se movendo.
- Sério? Eu sinto como se tudo estivesse completamente imóvel. Inclusive nós.
- Isso, eu também. Foi isso que eu quis dizer.
O corredor era iluminado por uma luz fraca que impedia a completa escuridão de engoli-lo, mas que também não permitia se ter certeza sobre qualquer coisa que a vista alcançasse, até se estar até 3m dela.
Ao olhar a camisa xadrez do amigo subir e descer incessantemente em seu peito, decidiu seguir.
- É melhor continuarmos, não acha? Atormenta-me parar ao lado destas portas. Sinto como se elas pudessem abrir a qualquer instante.
- Sim, sim, claro. – Voltando a caminhar – É a da esquerda, certo?
- É. É a da esquerda.
- Acho que ainda não a perdemos, não.
- Tenho certeza que não.
- Como pode ter certeza? – O outro estava duas passadas a sua frente – Acha que ela vai abrir?
A ausência de qualquer ruído de resposta só poderia significar uma confirmação.
Depois de um pouco menos de algumas horas e um pouco mais do que gostariam, o corredor parecia estar finalmente se movendo; o fundo estava mais próximo, e tão logo reduziram as passadas. Por mais que estivessem avistando o esperado, seus estômagos reviraram-se em um nó; uma porta de aparência normal encontrava-se no fim do corredor à esquerda.

Pensar com clareza
ouvir com clareza
ver com clareza
como já dizia...

Não havia plano sequer traçado, muito menos algum tipo de armamento que pudessem contar. Apenas o olhar de um para o outro e a certeza de que não havia caminho de volta, se não através daquela porta.

Larga teu nome
Larga tua forma
apoia-te no firmamento
e acompanhas o balanço

do que cresce e deixa o tempo pra trás
para aquele que a tudo estende e densifica.

A porta não se abriu, o cheiro não se alterou – o que não deixava de ser um bom sinal – e o tempo continuou a correr em seu compasso natural. Era pior, muito pior do que uma surpresa. Teriam que abrir quando decidissem por si mesmos, e assim que o fizeram encontraram também o que esperavam. O que era pior, muito pior do que serem surpreendidos.

Aceite que é um pouco mais do que isso,
Tudo isso só foi pra dizer que



(Re)ler também Calunga*1


Barbara

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Vozes

[Quando a gente para pra ouvir]


Com movimentos assim, espero que esteja me desenhando.
Porque se estiver escrevendo, está muito bravo.



Só pela ideia ser tão forte do próximo passo,
torna-se impossível voltar uma passada.
Mesmo antes de fazê-la.



É daqueles que ainda não sabe
o que o cheiro do fogo lembra.



Eu havia escrito ontem,
assim, de cabeça.
Agora que virou verdade,
não quero que leias.




No meu onde
há vários quandos
No seu como
há vários porquês
No meu porquê 
há um você
No nosso quando
há vários tempos.



Espero ser vencida gentilmente.



Barbara

domingo, 9 de junho de 2013

Uma boca, duas vozes

- Ontem recebi uma visita. Não sei se conseguirei falar.
- Todos os exagerados são insignificantes.
- Falar menos sobre pouco, e mais sobre muito.
- Peço desculpas.
- Cai no erro de maximizar pequenas coisas.
- Perdão.
- Por transformar individualismos em maioria.
- Não foi a intenção.
- Pensar que a dor pode ser coletiva.
- Suplico.
- Deveria ter guardado para mim.
- Não se repetirá.
- A prepotência de me achar fresco.
- Juro, que não se repetirá.
- A arrogância de me achar relevante.
- Perdeu a qualidade, eu entendo.
- Afastei-me do olhar que abarcava os detalhes.
- Estou envergonhado. ‘Bora.
- Foi uma fase ruim. Todos tem, pensando bem
- Não diga mais meu nome.
- Quero proibir-lhe de me ser um assunto.
- Ignore-me.
- De me ocorrer tantas vezes.
- Não me leia.
- Ao ouvir de mim mesmo, desfaleço-me.
-          
- Ao ter excessiva consciência do presente.
- Ignorância intrínseca.
- Ao ter certeiras visões.
-  Crueldade sem fim.
- É, o tempo.
- O tempo.


[leia junto leia separado]


*



Eu diria se fosse verdade
Pra ti, passado, se ainda existisse
Eu diria se fosse verdade.


Agora é diferente,
penso com meus músculos;
quero saber até onde posso correr,
o que pode me sustentar,
e o quanto devo carregar.
Passado fique ai, que eu já vou já.


Se sentir pertencer
a algo que nunca se fez parte
Dar satisfação ao que nada espera
Há de se desvincular
daquilo que nunca se esteve vinculado.


O que até ontem não existia
hoje lembro ao acordar.


Onde nada habitava
hoje, parece preenchido
pelo vácuo retorcido,
que do peito ao estomago puxa,
ansiedade, quase um estrangeirismo

Desvinculo-me do que inexistiu
Penduro-me no desconhecido
Raciocínio invertido.


Da cabeça para o estomago
uma lógica verdadeira.






Barbara

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Tres letras












Como se faz para permanecer com o mesmo tamanho,
quando o céu desce e a terra sobe?








Não se pode explicar o vermelho
ou o sabor da maçã.







Barbara