segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Pele

Como se vários percevejos tivessem pousado sobre o seu ombro e antebraço, bolinhas um pouco mais claras do que a pele estendiam-se por toda superfície. Ao puxar a pele para cima e soltar, todas se infiltravam para debaixo dela, como que com vida própria, como que aguardando um sinal.


- Isto está me assustando.
- O que?
- Estas coisas que estão aparecendo na minha pele. Elas parecem estar vivas, olhe.
- Deuses! Como assim? – O outro procurava no chão, após o primeiro tê-las feito desaparecer
-  Não. Entrou para dentro da minha pele.
- E por que você faz isso? Está entrando em você!
- Não consigo evitar. Uma vez que sei que ao puxar, tudo vai desaparecer e entrar, torna-se impossível resistir.
- Mas será que não sempre os mesmos? Pois assim que eles entram, outros aparecem. Podem estar apenas emergindo de volta.
- Não. Veja, pegue aquela caneta. Pronto, vamos marcar este. Agora eu puxo, desaparece, a marca ficou. Lá vêm eles, estão aparecendo novamente e o lugar marcado não tem nada.
- Eles não estão emergindo, estão...
- Pousando.- Estas coisas estão no ar!
- O tempo inteiro entre nós.
- Como você pode permitir que isto entre para dentro de você?
- Não há como, estão aqui...
- Podem estar pousando em mim também! Só que não vejo! Prefiro continuar sem ter certeza...
- Puxe a pele assim, e vamos ver.
- Por que você fez isso?!
- Agora que você já sabe não adianta fingir.
- Você quer me matar! Acho que estou infectado agora, cara! Afaste-se de mim.
- Fique calmo. Eu não estou morrendo, só vejo uma coisa que antes não podia ver.
- Oh não, minha pele está cheia agora!
- Ou não. Talvez antes já estivesse e você apenas não via. Agora vê.
- Como você pode ter certeza que não me infectou? Como pode ter certeza de que já estava ai antes?
- Não posso.

 

Sempre é o meu teste
esqueço-me das minhas partículas
perco a consciência que já havia conquistado
só pela aproximação a ti.
Não há sincronicidade em meus movimentos,
a leveza se mistura com a firmeza,
não queria afastar desta forma.
Vergonha de ser pega em flagrante,
medo de uma situação inesperada
desejando ser surpresa.

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