É culpa do CRAFT!
Que inércia! Que preguiça! Quanta
dificuldade! Oh ócio venenoso! Que ciclo vicioso!
Há uma dificuldade sem fim em se
fazer algo novo. Acredita-se que as perspectivas acabaram, que os furos na
história se esgotaram, está tudo nivelado, tudo já mapeado, já criado, socorro!
Eles gritam: Socorro!
Juventude perdida. Tudo o que
está feito está errado, é excludente, falso, superficial e não corresponde aos
verdadeiros sentimentos dos jovens angustiados. Há consciência disso, ufa!
Criatividade.
Alô?
Alô?
Parece não haver nada a ser feito,
tudo parece estar repetitivo, a criatividade não funciona, não alcança.
Os olhos se apertam, as sobrancelhas
quase se unem, rugas aparecem, lábios contraídos... O que pode ser feito? Ahhh,
não se aguenta ficar focado por mais de cinco minutos numa mesma causa.
Impossível. Desiste.
Tudo virou clichê, contraposto
com teu oposto. Use o contraposto como clichê e o clichê como contraposto, já
foi feito. O brega já é moda, a moda já é brega, e esta inversão já foi feita
no mínimo dez vezes.
Como foi feito antes? Como eles
conseguiram? Será que naquela época foi tão inovador assim ou eles fingiram
para a posterioridade não notar? Socorro. Será que agora a sinceridade é
tamanha que não se pode ignorar que já foi feito?
Eles dizem: Faremos o mesmo! Liguem
as mesmas vitrolas. Risquem as mesmas coisas. Lá se vão os banheiros
femininos...
Chegam-se os CRAFTs, exatamente
os mesmos de outrora. Reivindicando as mesmas coisas, de quem é a culpa?
Socorro. Isto não funciona, eles pensam. Mas o que mais se fará?
Criatividade. Onde ela mora? Há muito não se encontra.
Mas o que? Tudo já foi feito.
Mas o que? Tudo já foi feito.
Devem ser os CRAFT`s, uma
tentação pintá-los com guache. Como resistir? Um foi feito para o outro, assim
como o queijo branco e a goiabada.
Lá está: Um jovem parado com um
pincel na mão esquerda e um pote de guache vermelho na mão direita. O CRAFT
estendido no chão está apenas a dois metros de distancia, como não pintá-lo? O
jovem sua. Sabe que não está certo, já foi feito, mas, mas, mas, pra que mais
pode servir um CRAFT?! Ele deve ser pintado com alguma frase de impacto! Ele
deve ser pendurado e colado no concreto mais próximo!
O jovem sabe que não vai
resistir, que aquilo vai acontecer. Mesmo que tomem seu pincel, sabe que não
hesitará em mergulhar o dedo médio e indicador no pote e pintar o que precisa
ser pintado. Qual era a frase mesmo? Não importa. Só precisa fazer aquilo mais
uma vez. Amanhã prometo que não farei, vou acabar de ler... Vou conseguir. Só
um pouco de concentração, eu vou conseguir... Mas hoje não. A tentação do CRAFT
está muito próxima.
E mais uma vez ele pintou. E mais
uma vez aquilo foi pendurado. E mais uma vez a chuva transformou em goma. E
mais uma vez a senhora limpou e pensou, esses meninos não cansam dessa nojeira.
E mais uma vez no dia seguinte ele pensou que talvez fosse besteira procurar
algo novo ou acabar de ler. Tudo já havia sido dito, pensado, criado, não havia
o que fazer. E mais uma vez de noite, dormiu angustiado; aquilo tudo estava
errado, mas não sabia o que fazer.
PS: Quem também achar que é tudo
culpa dos rolos e rolos de papel CRAFT, assim como eu, estarei amanhã no mesmo
lugar de sempre, pintando um CRAFT apoiando o fechamento de todas as fábricas
de CRAFT do planeta. Contra o atraso mental!
Barbara
Nenhum comentário:
Postar um comentário