domingo, 8 de setembro de 2013

Amor Plúrimo

E de repente todos os braços ao mesmo tempo se cansaram. E de repente todos os corpos brilhavam no sol quente. E de repente todas as visões se embaralharam, e o ar entrava como agulhas pelas narinas largas. E de repente todos suavemente pausaram, e por alguns segundos fixaram seu olhar na terra. E de repente todos continuaram.

Baraúna é uma árvore. Dura como aquele olhar. Fere feito faca. Baraúna não cai. Baraúna continua ali de pé, parada, aconteça o que acontecer. Baraúna é grande e forte. Se Baraúna cair, quanto mais eu.

E de repente os músculos sentiram-se fisgar, mas não de exaustão, mas pelo olfato. Um cheiro ao longe fora identificado por todos os narizes largos. Nem por isso houve uma pausa, nem por isso os facões cessaram. Nem por isso a dor diminuíra. E de repente todos tentavam identificar que cheiro era aquele; tão diferente dos que sempre os cercavam, mas já muito conhecido.

Havia uma Baraúna a poucos quilômetros de distancia, e ela agora se envergava. O vento falava ao pé do ouvido de cada folha. Ou melhor, lhe gritava as boas novas, e a árvore sorridente amolecia diante do que chegaria.

E de repente aquele cheiro impregnou-se em todos os corpos. E de repente um frescor entrou pelas poucas vestes, e a terra pareceu soltar um profundo suspiro em baixo dos pés descalços. E de repente da profunda inspiração que a terra fizera, sua expiração viera com pequenas gotas de água. Vieram saudar aquelas que por cima chegariam.

Baraúna não é homem, mas Baraúna fala. Baraúna não é mulher, mas Baraúna chora. Baraúna não é criança, mas Baraúna dança. Baraúna não é velho, mas Baraúna sabe. Baraúna não é de ninguém, mas Baraúna sofre.

E de repente os corpos de todos estremeceram. Não pelo cheiro, não pelo frescor, mas pelo rugido. Não da terra que escancarava sua língua para fora, não da Baraúna ao longe que urrava em saudação. Mas daquilo que vinha do céu. E de repente os corpos se endireitaram, há muito não deixavam de estar curvados. E de repente os facões caíram pelo terreno e as mãos esticadas, fizeram a pele há muito tencionada, rachar. E de repente o peito de cada um inflou numa ultima respiração pesada.

Baraúna dançava. Baraúna urrava. Se Baraúna tivesse rosto, teria uma expressão de amedrontadora beleza. Se alguém estivesse vendo aquela Baraúna naquele instante, mais nada veria.


E de repente homem a homem, lado a lado, feridos e castigados, foram engolidos pela terra que estendia sua enorme língua para da chuva beber. E de repente, choveu.


[Como canalizar um vazio tão grande?]


Barbara

Nenhum comentário:

Postar um comentário