E
de repente todos os braços ao mesmo tempo se cansaram. E de repente todos os
corpos brilhavam no sol quente. E de repente todas as visões se embaralharam, e
o ar entrava como agulhas pelas narinas largas. E de repente todos suavemente
pausaram, e por alguns segundos fixaram seu olhar na terra. E de repente todos
continuaram.
Baraúna
é uma árvore. Dura como aquele olhar. Fere feito faca. Baraúna não cai. Baraúna
continua ali de pé, parada, aconteça o que acontecer. Baraúna é grande e forte.
Se Baraúna cair, quanto mais eu.
E
de repente os músculos sentiram-se fisgar, mas não de exaustão, mas pelo
olfato. Um cheiro ao longe fora identificado por todos os narizes largos. Nem
por isso houve uma pausa, nem por isso os facões cessaram. Nem por isso a dor
diminuíra. E de repente todos tentavam identificar que cheiro era aquele; tão
diferente dos que sempre os cercavam, mas já muito conhecido.
Havia
uma Baraúna a poucos quilômetros de distancia, e ela agora se envergava. O
vento falava ao pé do ouvido de cada folha. Ou melhor, lhe gritava as boas
novas, e a árvore sorridente amolecia diante do que chegaria.
E
de repente aquele cheiro impregnou-se em todos os corpos. E de repente um
frescor entrou pelas poucas vestes, e a terra pareceu soltar um profundo
suspiro em baixo dos pés descalços. E de repente da profunda inspiração que a
terra fizera, sua expiração viera com pequenas gotas de água. Vieram saudar
aquelas que por cima chegariam.
Baraúna
não é homem, mas Baraúna fala. Baraúna não é mulher, mas Baraúna chora. Baraúna
não é criança, mas Baraúna dança. Baraúna não é velho, mas Baraúna sabe.
Baraúna não é de ninguém, mas Baraúna sofre.
E
de repente os corpos de todos estremeceram. Não pelo cheiro, não pelo frescor,
mas pelo rugido. Não da terra que escancarava sua língua para fora, não da Baraúna
ao longe que urrava em saudação. Mas daquilo que vinha do céu. E de repente os
corpos se endireitaram, há muito não deixavam de estar curvados. E de repente
os facões caíram pelo terreno e as mãos esticadas, fizeram a pele há muito
tencionada, rachar. E de repente o peito de cada um inflou numa ultima
respiração pesada.
Baraúna
dançava. Baraúna urrava. Se Baraúna tivesse rosto, teria uma expressão de
amedrontadora beleza. Se alguém estivesse vendo aquela Baraúna naquele
instante, mais nada veria.
E
de repente homem a homem, lado a lado, feridos e castigados, foram engolidos
pela terra que estendia sua enorme língua para da chuva beber. E de repente,
choveu.
[Como canalizar um vazio tão grande?]
Barbara
Nenhum comentário:
Postar um comentário