domingo, 19 de maio de 2013

Não entendendo


Tragicomédia

Quando me arrependo,
enrubesço
aperto os olhos
dolorido sorriso
sobrancelhas apertam
vergonha
calor
enrubesço
vácuo do estomago
olhos tampados
gemo
escondo-me
imóvel
repenso
relembro
dolorido prazer
enrugo-me
quase choro
aceito
respiro
distraio-me.


*

- Mas como você pode ter feito esta viagem?
- Já disse, é uma massa de ar.
- Mas, por cima do oceano?
- Sim, Atlântico.
- Por cima de uma extensão quase infinita, com risco de cair em abismos profundos?
- É.
- Por cima de um dos maiores oceanos do mundo, sujeitos a qualquer mudança de rota?
- Não há nenhuma mudança de rota. Faz séculos que a rota é a mesma.
- Como você sabia disto antes de sair? É uma viagem de ida! Quem vai não volta pra contar!
- Não é bem assim.
- Por favor! Não me fale que tudo está interligado, e que você sentiria.
- Mas eu sentiria...
- Ahh! (pausa longa) Tudo bem. Vocês viajam toda esta extensão?
- Sim.
- Por cima de colunas e colunas de água?!
- Sério?
- Desculpe. Através de uma massa de ar?
- É.
- Chegam aqui e se dirigem exatamente para este local?
- Sim.
- Para fertilizar-nos?
- Não sei se fertilizar é a palavra, mas para agregar e enriquecer.
- Essa é boa! Vocês vem do lugar mais autoritário do mundo, do império do sol, onde não se permite nenhuma criatura sobreviver ao ar livre durante 60% do dia. Do lugar que nada restou, que tudo se estende de forma longínqua e intermitente, onde nada mais brota. Para vir aqui e agregar e enriquecer um dos lugares mais ricos do mundo? Onde há mais vida e cores? Me diga por favor.
- Dizer o que?
- Se é isto que vocês vem fazer.
- Sim, é isto.
- É isto?
- Exatamente isto.
- Oras, não compreendo.


Barbara

Um comentário: