Ontem escrevi:
Hoje, pela primeira vez na vida, desejei poder ficar invisível. Para ser apenas para mim mesma. Para a minha imagem não ser encontrada por mais ninguém. E para ela não encontrar.
Queria poder ficar entre a multidão, sem a multidão estar comigo, e poder sentir estes arrepios sem ser notada. Hoje eu não queria me dividir – ser roubada de mim mesma.
Hoje eu queria só viver. Mas para isso ninguém pode ter-me no horizonte. Pois sob o olhar de qualquer um, minha existência não é legitimamente pura. Se outro me nota, mesmo que sem me conceber de fato em sua consciência, eu passo a olhar-me no reflexo de seus olhos, e deixo-me para trás.
Esqueço de mim na minha verdadeira essência, e acabo por considerar como verdadeira aquela que o outro me tem.
É neste momento que todos se perdem. No convívio intenso com uma ou mais pessoas, esquecem-se do seu eu verdadeiro – esquecem-se de olhar para dentro, e só vêem em frente – enxergando-se apenas refletidos nos olhos do outro.
Se o outro fosse um espelho de vidro, talvez esta imagem quase se equivalesse de forma íntegra a realidade – mas Alice tem razão –, mas não é.
Trata-se do reflexo nos olhos do outro, em um azul, em um castanho, em um acinzentado, e quem sabe ainda imerso em um verde. Não representando apenas a ti mesmo, mas somado a tudo que emerge do outro.
A convivência nos desloca um pouco de nós mesmos. Daí, o oposto ser tão forte: aquele que se transforma sazonalmente em um ermitão, partindo para caminhar no deserto sozinho ou apenas valoriza seus momentos de solidão – não no sentido cinza chumbo, mas no azul marinho ou salmão – se reconhece e conhece essencialmente cada vez mais. Seus olhos estão sempre voltados para dentro, ao passo que mesmo quando está disposto a olhar o que o rodeia – em um certo raio de distancia – é só a si mesmo que enxerga, pois seu reflexo não se encontra em nenhum outro olhar.
De todos as questões que podem ser tiradas disto, atento-me a;
Apenas sozinho vejo apenas a mim mesmo, verdadeiramente;
Ao olhar os outros, “distantemente”, continuo enxergando apenas a mim;
Contudo, acompanhado, enxergo-me misturado a aqueles que vejo de perto, sendo incapaz de me deslocar de suas figuras, para ver-me de forma verdadeira;
Penso, portanto: Preciso sempre me distanciar para ver minha verdadeira face? Junto ou separado não consigo enxergar o outro de forma sincera? Eu sempre partirei de mim para vê-lo?
Então escolherei permanecer fiel a mim mesmo ou distanciar-me de mim para ser fiel com o outro?
Abro mão de uma visão íntegra do meu espírito, e me compartilho?
Como expandir minha consciência para viver em conjunto, preservando meu espírito sem interferir de maneira rude, naquele que me acompanha?
Como agregar sem despedaçar?
Dou-lhe minha alma, mas não fique com nenhum pedaço dela.
Barbara
E assim criamos nossas travas.
ResponderExcluirAcho que vou me isolar pra aprender a plantar bananeira.rs
Mas falando sério, muito bom! Nunca tinha parado pra ler nada seu, me identifiquei.
Obrigada