domingo, 8 de janeiro de 2012

Visão

Tem uma coisa que soou muito bem para os meus ouvidos; mulheres que se pintam, se pintam para a guerra.

Mulheres que se pintam de carmim.

Houve uma vez de olhos fechados que fui a um lugar ensolarado. Lembro que fazia muito calor, mas de alguma forma, estava acostumada e não me incomodava em nada. Tudo era amarelo e dourado, e eu não estava sozinha. 

Havia uma leve brisa que moldava o meu rosto, diferente do que é hoje. Meus olhos eram amendoados, grandes e escuros. Meu rosto era mais esguio e meus cabelos estavam
Ali no topo parada, eu lembrava quando era uma criança e todos depositavam suas esperançosas expectativas em meus ombros pontiagudos. Eu era selvagem, corria feito um animal sobre as quatro palmas e rugia como um leão. Caçava como se desconhecesse a existência de todas as pessoas que me serviam. Amava aquela terra como se fosse parte de mim.
Terra seca e fértil, feita toda de areia quente esticada sob os nossos pés, e com um rio irreverente perfurando-a e a fazendo-a brotar tudo o que precisávamos.
Ali no topo parada, tive a impressão de que era observada. O que eu não sabia é que era por mim mesma, anos a frente de olhos fechados.
De repente apareceu alguém que eu já conhecia, mas que eu não podia ver o rosto em detalhes. Uma mulher de cabelos curtos, grudados na cabeça, negra e materna. Com uma força primordial em si.
Eu me sentei e dobrei todo o meu corpo até minha cabeça ficar abaixo dos joelhos, como se só aquilo fizesse passar a fraqueza que eu sentia. Então ela me disse:
- Levante menina. – Eu não levantei.
- Vamos, erga essa cabeça. – Não levantei – Está bom ai?
- Está. – Eu disse.
- Hum, que bom. Agora levante.
- Não.
- Levante.
- Não quero! Está bom aqui.
- Levante logo. A gente tem muito o que fazer.
- É verdade... E o que é?
Ela não disse nada.
- E para onde eu vou?
Silêncio.
- Com quem?
Silêncio.
- O que eu faço?
Ela pintou uma faixa em volta dos meus olhos e disse:
- A gente vai te coroar.
- Que absurdo! – Olhando a inexpressividade da outra, eu disse – Tudo bem.
Levantei-me como num salto repentino, foi como se voltasse a ter força, e assim colocou-me um diadema. Olhei adiante e vi.
...

Barbara

2 comentários:

  1. "If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite." - William Blake

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  2. Ai menina Bárbara!

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