domingo, 16 de setembro de 2012

Cadenciando

Atento,

a trajetória determinada evita;
vagar pelo espaço,
entrar em qualquer centro de gravidade,
orbitar em torno
de um dispensável princípio.

Ou pior,
Desatento,
levado para uma dezena de luas,
a mudanças constantes
à deriva da maré de outros.

A casualidade momentânea
leva ao vislumbre
de coisas não desejadas

*


Não tem outro jeito?

Não, pra curar só assim.
Mas desse jeito é terrível! Não é possível, nem tudo precisa pela dor.
Tudo? O que mais você tem feito pela dor?
Eu? (pausa)                   Não sei! Eu não vou ficar lembrando dessas coisas...
(Silêncio)                      Bom, e então?
Você acha que vai doer muito?
Vai.
E depois?
Só depende de você.
Então me explica o que você vai fazer primeiro.
Vou esquentar a faca e enfiá-la na ferida.
Vai me queimar?
Não.
E depois?
Vou puxando o espinho pra fora.
Ta. Então vai de uma vez.
Claro. Se não o espinho quebra e precisamos recomeçar.
Não quero olhar.
Tudo bem, mas você não pode se mexer.
Você vai ter que me segurar.
Não dá.
Tudo bem.

O facão tinha um pouco mais de vinte centímetros além do cabo de madeira. A ferida tinha cerca de oito centímetros de diâmetro e era funda, cor de vinho.

No segundo em que o facão tocou a ferida e a penetrou, os olhos apertados se arregalaram em direção ao teto e a boca escancarou num grito rouco.

O calor se espalhava pelo corpo do homem deitado, a dor já o possuía de uma forma que não se lembrava mais em qual parte do corpo estava a ferida. Ele era a ferida. Sua mente latejava naquilo que lhe parecia uma eternidade.

Ao mesmo tempo um novo sentimento tomava conta do seu corpo e mente. Era forte. Seria capaz de fazer qualquer coisa. Provavelmente assim que acabassem aquilo que estavam fazendo, ele dobraria de tamanho, se tornaria um homem muito mais forte do que era.

Seu pé caminharia firme e descalço pela terra, nada o desequilibraria. Os músculos de suas pernas seriam para sempre rígidos, seus reflexos mais rápidos. A pele brilharia a cada feixe de luz, e os olhos de uma intensidade insuportável.

Ele havia sido a ferida. Ele sabia o que era ser a ferida e aceitar isto. Agora era mais.



“Não me mate não.
Não me pegue, não me corte com a ponta do seu facão.”



Barbara



Um comentário: