Não há como dizer quando começou,
isto nasce conosco, isso sim, nasce. Agora o que aparece é o desespero para que
seja lido. Não por você, ou você, ou você, mas por aquele que sabe da dança,
sabe do estremecimento que invade e fará o convite. Este sabe que o convite não
deve ser feito um minuto antes, ou um minuto depois. Sabe que eu não posso recusá-lo
de maneira alguma, e também sabe que no exato momento, isto seria completamente
impossível para eu fazer.
As palavras vêm inteiras, as
frases chegam prontas, o difícil é não perdê-las. Manter-se no fio... Mas não
há como perder, não se escolhe, mas se é escolhido, isto é claro. Claro como água.
Claro como os verdes olhos vistos na hora.
Só uma palavra que descreve a
exata sensação de que Isto proporciona; sagrado. Não inventamos ainda nenhum
outro conjunto de signos que descrevam com fidelidade. O sagrado se manifesta pelo
estremecimento, e há mais de uma maneira de ser invocado... De ser cantado e
ouvido, já achei uma porção delas. Mas como que por mágica, após usá-las,
esqueço-as... Como se não pudesse mais lembrá-las. Só recordando quando a vida
quer.
E então, tudo é atingido pela
sensação completa compreensão. A lembrança vem à tona, como que esmagando os
ossos...
Não é direito roubar a vida de
alguém assim; tocando-a com o sagrado desde seu nascimento. Por mais que ele
seja privilegiado por conhecer aquilo que tantos passam a vida tentando saber;
confirmar se realmente existe. É egoísta obrigá-lo a conviver com uma consciência
tão grande... Como olhar para o banal a partir de então? Como não sentir uma
eterna satisfação por aquilo que dá sentido a sua vida, e pode acabar com ela
ao mesmo tempo, numa unidade de tempo desconhecida? Isto é uma injustiça com
esta pobre alma.
Quem decide isto? Quem decide quem
serão aqueles portadores da palavra? Eles escolhem isto em algum momento? Tenho
certeza que sim. A intuição existe e não há como se negar. Antes de embarcarem
onde viverão, aceitam sua missão como quem aceita onde irá dormir naquela
noite. Aceitam, e quando abrem os olhos pela primeira vez a esquecem. Restando
apenas uma intuição, uma saudade pelo desconhecido, uma angústia em realizar
uma tarefa invisível, uma voz ao fundo... cantando. Como deixá-la inteligível?
Como ganhar a permissão de realizar sua tarefa de forma consciente?
Há pequenas brechas, fendas no
destino. Talvez achando uma delas se obtenha alguma resposta. Ah sim, foi assim
da ultima vez; por baixo das pernas, assim é que foi. Mas talvez não tenha sido
rápida o bastante em me esconder quando a brecha foi fechada, e acabei sendo
pega. Posso estar sendo punida desde então, mas não me lembro, não tenho consciência,
porque assim não querem.
Os sinais não param de aparecer,
mas como sair deste circulo vicioso do conforto e cair onde tanto se quer?
Barbara
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