domingo, 8 de julho de 2012

Nasce tocado

Um dois três, ouço a canção outra vez.

Não há como dizer quando começou, isto nasce conosco, isso sim, nasce. Agora o que aparece é o desespero para que seja lido. Não por você, ou você, ou você, mas por aquele que sabe da dança, sabe do estremecimento que invade e fará o convite. Este sabe que o convite não deve ser feito um minuto antes, ou um minuto depois. Sabe que eu não posso recusá-lo de maneira alguma, e também sabe que no exato momento, isto seria completamente impossível para eu fazer.
As palavras vêm inteiras, as frases chegam prontas, o difícil é não perdê-las. Manter-se no fio... Mas não há como perder, não se escolhe, mas se é escolhido, isto é claro. Claro como água. Claro como os verdes olhos vistos na hora.
Só uma palavra que descreve a exata sensação de que Isto proporciona; sagrado. Não inventamos ainda nenhum outro conjunto de signos que descrevam com fidelidade. O sagrado se manifesta pelo estremecimento, e há mais de uma maneira de ser invocado... De ser cantado e ouvido, já achei uma porção delas. Mas como que por mágica, após usá-las, esqueço-as... Como se não pudesse mais lembrá-las. Só recordando quando a vida quer.
E então, tudo é atingido pela sensação completa compreensão. A lembrança vem à tona, como que esmagando os ossos...
Não é direito roubar a vida de alguém assim; tocando-a com o sagrado desde seu nascimento. Por mais que ele seja privilegiado por conhecer aquilo que tantos passam a vida tentando saber; confirmar se realmente existe. É egoísta obrigá-lo a conviver com uma consciência tão grande... Como olhar para o banal a partir de então? Como não sentir uma eterna satisfação por aquilo que dá sentido a sua vida, e pode acabar com ela ao mesmo tempo, numa unidade de tempo desconhecida? Isto é uma injustiça com esta pobre alma.
Quem decide isto? Quem decide quem serão aqueles portadores da palavra? Eles escolhem isto em algum momento? Tenho certeza que sim. A intuição existe e não há como se negar. Antes de embarcarem onde viverão, aceitam sua missão como quem aceita onde irá dormir naquela noite. Aceitam, e quando abrem os olhos pela primeira vez a esquecem. Restando apenas uma intuição, uma saudade pelo desconhecido, uma angústia em realizar uma tarefa invisível, uma voz ao fundo... cantando. Como deixá-la inteligível? Como ganhar a permissão de realizar sua tarefa de forma consciente?
Há pequenas brechas, fendas no destino. Talvez achando uma delas se obtenha alguma resposta. Ah sim, foi assim da ultima vez; por baixo das pernas, assim é que foi. Mas talvez não tenha sido rápida o bastante em me esconder quando a brecha foi fechada, e acabei sendo pega. Posso estar sendo punida desde então, mas não me lembro, não tenho consciência, porque assim não querem.
Os sinais não param de aparecer, mas como sair deste circulo vicioso do conforto e cair onde tanto se quer?

Barbara

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