sexta-feira, 20 de abril de 2012

Greve das Abelhas

Frederico sabia que eles chiariam. Provavelmente seria linchado. Possivelmente seria destroçado e colocado à amostra para servir de lição. Na verdade, o jogariam para os canibais. Com certeza ele...
- Seu Frederico! Me vê duas garrafas!
- Não tem.
- Não tem... – o senhor gordo ria – Ah, seu Frederico, só o senhor mesmo. Mande logo duas.
- Não tem.

O olhar do outro mudara, precipitava-se a hesitar em questionar, suas sobrancelhas se uniam, ao passo que D. Laura aparece.

- Frederico! Não encontrei meus sachês aqui na porta. O senhor esqueceu?
- Não tem. Acabou.
- Hã? O que o senhor disse? – Ela já vinha saindo pelo portão.
- Ele está meio abestalhado, D. Laura. – o gordo voltava a respirar com dificuldade – Ta dizendo que não tem garrafa.
- Nem sachê? – Perguntou incrédula.

Ambos aguardaram a resposta de Frederico, mas ele só pensava que não conseguiria dar a noticia. Facilmente gaguejaria. Na realidade as palavras o engasgariam. Com certeza morreria ali, duro, pelas palavras se confundirem com o canal da respiração. Provavelmente...

- Opa opa, o que está acontecendo ai? – era o carteiro chegando – Todo mundo de pé?! Como está a senhora, D. Laura?
- Tô puta!
- Que isso! A senhora é mulher tão inteligente...
- Não! Não é nada disso. Frederico disse que não tem garrafa... Nem sachê! – lhe faltava ar, a mão segurava o enorme peito esquerdo.
- Quê?! Seu Frederico, o senhor nunca deixou de trazer nada, desde que meu pai morava aqui nessa rua, sempre falava que não seria nada sem o senhor. Imagine, a rua toda espera todo dia e lá desponta o senhor no princípio da rua com a mercadoria. Meu pai costumava dizer que oras, como se isso fosse possível, que se um dia o senhor não aparecesse, eles iam te buscar onde estivesse, do outro lado do rio se preciso. Porque vocês sabem, meu pai já morou lá do outro lado do rio, então pra ele tudo que é longe é depois do rio. Mas que se um dia os senhor não trouxesse, mas aparecesse, ai...
- Chega dessa loucura! – o gordo suava ao passo que uma vermelhidão surgia em seu pescoço – Seu Frederico, explique-se imediatamente!
- Bem, como vocês sabem, o meu produto é fresco... – todos trocaram olhares de entendimento e balançaram a cabeça afirmativamente. – Mas...

Ele congelou e as pernas enfraqueceram; havia avistado Lucas. Sabia que não conseguiria lhe falar. Obviamente seria trancafiado na casa do viciado como punição. Facilmente seria arrastado até a sua porta. Na verdade morreria ao comer os ratos de seu porão. Claramente acabaria por...

Lucas ignorara toda aquela irregularidade. Desviara dos enormes seios de D. Laura, passara pelas poças que se acumulavam debaixo dos braços do gordo, acabando por apenas levar um pequeno sanafão do boné que o carteiro rodopiava.

- Senhor Frederico... - ele sussurrava na boca do ouvido do homem – Senhor Alfredo, adianta-me...
- Lu-lucas, eu n-não...

Todos percebiam a gravidade da situação. Ao verem Frederico virar os olhos diante daquele menino esquálido, que colava ao seu ouvido, como que tem cede e avista um poço.

Como seu Frederico podia estar aguentando aquilo? Parecia um vampiro hipnotizando sua presa, ansiando e ansiando...

- Rápido senhor Frederico. O senhor sabe que eu não gosto de ficar aqui fora...
- Lucas, eu não... Eu não... trouxe. - o olhar de Frederico estava congelado no horizonte.
- Ele não tem menino! Pelo amor de Deus, ele não trouxe – o carteiro prestes a surtar diante daquela cena, que sem previsão para acabar, se desenrolava.
- O senhor não... Não trouxe? - era como se Lucas tivesse levado um soco na mente e que caía fundo até a boca do estômago.

- Por amor dos deuses, os senhores podiam começar a formular frases inteiras! Chega! - D. Laura surtava, deixara a chaleira no fogo. - A questão é; Por que raios senhor Frederico? Por quê?

Porque. Como ele explicaria a eles todos o que havia visto pela manhã? Eles não o deixariam explicar, chamariam o carro do Pinel e o levariam de volta para aquele lugar viscoso... Provavelmente um minuto antes de se pronunciar, tapariam sua boca com terra. Sem dúvida, o colariam numa cerca elétrica. Na verdade, o jogariam como oferenda no mar para ser comido vivo...

- Não tem. - sua voz saiu rouca – Não tem, porque não pude pegar hoje pela manhã.

Ninguém respirava ou piscava.

- Fui até o maxixe pela manhã, mas não pude pegar.
- Elas estavam agitadas?
- Shhhh! - D. Laura calara o gordo.
- Não havia nada. Apenas uma faixa escrito – ele não poderia dizer, não conseguiria ir tão longe – Escrito... - era como agulhas no seu peito – Escrito, GREVE.


(Fim da parte I - continua)

Barbara

Nenhum comentário:

Postar um comentário