terça-feira, 6 de março de 2012

Ballet de Livros

Quando estamos buscando nossos reais objetivos com perfeição, tonificação ou um aprimoramento específico, passamos pelas mesmas provações. Obtemos os “mesmos” resultados, e respiramos os mesmos desesperos. Mesmo se os objetivos forem diferentes.
Em um ballet ou qualquer outro treino físico, as horas são infinitas. Somam-se os minutos de treinamento como numa infinita progressão. Por mais cansado que esteja, quanto mais arder para puxar os fios de ar que seu pulmão precisa, mais você vai continuar.

Perde-se quilos, líquido, unhas, vaidade, escovas, pudor, os valores, sono e sangue. Ganha-se medo, um olhar duplo, desejo de perfeição, vontade de desistência, músculos tremendo, lágrimas, esperança, dentes arreganhados e calos.

Tudo, exatamente, como no estudo.

Aquele que já mergulhou no verdadeiro estudo ou numa pesquisa empírica, sabe quantas horas de dedicação são necessárias. Corpo e mente trabalham juntos, sempre. Logo, mesmo numa atividade que aparentemente tem indícios exclusivos intelectuais, o esforço e o desgaste estão sempre presentes.

Existe um processo de entrega, onde você abdica de tudo e serve a si mesmo para obter o resultado que almeja. Há os momentos de revolta, de fascinação por uma nova descoberta... Como qualquer amor empírico, possui dois lados: potencialmente bom, potencialmente mal.

Ao estar de corpo, mente e alma numa atividade intelectual passo por tudo isso, afirmo com propriedade. Não há escapatória, é uma jornada imposta por você mesmo que te despedaça por inteiro.

Deitada no chão frio, sem vestido, de cabelos desgrenhados, músculos rígidos, tensos, tremulantes. Olhar perdido, boca seca... O sorriso está muito longe, quase impossível de se realizar. Não me sinto respirar, tudo desaba, monta, desmonta, se encaixa, como um quebra cabeça que não depende de mim.

Tenho vontade de ficar o mais próxima possível do chão. Não existem espelhos, existem espelhos. Cócoras, sustentando-me nos nós dos dedos da mão e do pé. Rígida. Não há frio, calor, vontade, sono ou fome.

Quero respirar ar puro e não conhecer ninguém. Quero deixar isto vir, já que está tudo em mim. Que não me dirijam a palavra, pois não vou responder.

Minha boca está seca, e a saliva não existe para me ajudar.

Deixe-me no ar frio da madrugada. Não importa que horas são. Ele sempre está aqui, mais tarde vou descobrir.



Barbara

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