domingo, 17 de novembro de 2013

Quandos

Num quando de antes


Havia um tempo em que tudo respirava. Estava mais do que vivo; tudo vivia.
Era um tempo em que respirar não atestava viver. Mas uma constatação de existir.
Um homem de hoje se, por uma golfada de ar do destino, fosse catapultado para aquele quando, provavelmente enlouqueceria. E o primeiro – dos infinitos – motivo seria se deparar com outro silêncio.
Onde tudo respira não há brechas, a todo instante se ouve inspirações e expirações, o silêncio é outro. Não é vazio, não é branco. Mas pulsante e verde.
A única maneira de sobreviver a ele é estar tão sincronizado, que sua respiração acontece no mesmo ritmo.


No quando de hoje

Os espinhos não estão no chão
mas em meu pé
Eles não estão ali desde sempre
mas aparecem
Mesmo que nascidos de mim
são um corpo estranho
Um. A. Um.
fincam-me o calcanhar.

Viver hoje implica ser um corpo estranho para o próprio corpo.
Ser contemporâneo é estar eternamente em conflito consigo.



*

Você me vê
E de tão encantado
perde a fala.
E tua alma sobe
e te engasga.
Você quer me dizer
e desesperado estala a boca,
debate a língua
ritmiza o corpo
procurando a fala.
E deste som
nasce sua palavra.
Primeira que conta.
Então diz
que me ama.
Entro em ebulição
perco a fala.



Barbara

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